Pomar de Letras é uma colaboração de diversos amigos, em formato "zine". Tem por objectivo encontrar um espaço no nosso meio cultural e divulgar a obra e propostas dos seus colaboradores nas mais variadas expressões. Conta por isso com o apoio e a colaboração de todos. Partilha connosco a tua arte, contacta-nos através da conta de correio electrónico pomardeletras@gmail.com, para que juntos, possamos florescer e ser frutos desta pequena (r)evolução.
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terça-feira, 31 de maio de 2016
Ditados Impopulares (#11/2016)
"Um provérbio para as redes sociais. Haveria certamente outras soluções impopulares para: "mais vale um gosto que vinte vinténs", mas esta é para inglês ver."
Segue os Ditados Impopulares no facebook. ;)
terça-feira, 17 de maio de 2016
Ditados Impopulares (#10/2016)
"Um provérbio sobre a semeação de nuvens e a criação artificial de catástrofes a que chamamos naturais."
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sexta-feira, 6 de maio de 2016
Poesia de primeira, à Sexta-Feira (#18/2016)
Geologia
Às vezes são homens de bem
empurrados para esta vida,
resquícios da erosão da montanha,
paisagens antigas
enterradas sob o gelo.
Nada está garantido
numa geologia tão frágil. Este chão
pode virar-se sem aviso.
Ainda assim, sejam bem-vindos,
fiquem tristes à vontade.
Às vezes são homens de bem
empurrados para esta vida,
resquícios da erosão da montanha,
paisagens antigas
enterradas sob o gelo.
Nada está garantido
numa geologia tão frágil. Este chão
pode virar-se sem aviso.
Ainda assim, sejam bem-vindos,
fiquem tristes à vontade.
Vítor Nogueira
quarta-feira, 4 de maio de 2016
159cm, por Rogério Paulo E. Martins (#01/2016)
159cm é uma rubrica nova na Pomar de Letras, onde esporadicamente o autor nos dará a sua opinião e visão do mundo. Desde temas sérios a divagações surreais e disparatadas, tudo cabe em 159cm.
"Like my selfie"
"Like my selfie"
Esbarrei,
outro dia, numa publicação no facebook em que a fotografia de um miúdo com o
seu cachorrinho era acompanhada duma descrição na qual aquele se desculpava do
seu comportamento e fazia juras de grande amor pelo canídeo. Não sabendo do que
se tratava e com a curiosidade atiçada,
por os mais de mil comentários, abri a publicação e dei uma vista de olhos pela
miríade de reacções para perceber o que se houvera passado. Rapidamente, por
entre os insultos ao miúdo percebi que, em nome dos quinze segundos de
estrelato na Internet, este gravara um vídeo em que maltratava o animal. Não vi
o vídeo, mas pude perceber por entre aquelas reacções e outras publicações com
que me deparei, que o indivíduo chegou a ameaçar largar o cão janela abaixo,
caso chegasse a determinado número de “gosto”.
No dia
anterior, ficara perplexo com a notícia de uma jovem nos E.U.A. acusada de
cumplicidade na violação de uma amiga, porque, ao invés de ajudar a amiga que
estava a ser violentada, a jovem achou aquela uma oportunidade ideal para pegar
no seu “smartphone” e partilhar a violação em directo no Twitter. Segundo a
própria, a intenção era que alguém chamasse a polícia, porque é claro ela
estava muito ocupada a partilhar o momento na sua página pessoal e não poderia,
ser ela a ligar para as autoridades, ou ajudar a amiga (segundo a notícia, a
rapariga ria-se, enquanto filmava e a outra era violada, e a sua única acção
foi puxar uma das pernas da vítima, ao invés de atacar o violador). A integridade
física e mental da amiga era inferior face ao possível número de seguidores e “likes”.
Agora,
deparo-me com o relato de uma estátua, num edifício património nacional, escaquilhada
por causa de uma fotografia. Até poderia ter sido um acidente e muito
provavelmente até daríamos por nós a relatar algumas maluquices da nossa
juventude, sentindo uma certa empatia para com o jovem. O problema é que todos
estes casos têm um ridículo denominador comum, que passa pela “fama” nas redes
sociais. Uma fotografia, já não vale pelo seu interesse artístico, ou pelo
momento captado, um vídeo não regista um momento que queiramos guardar para
recordar futuramente; hoje em dia as cousas valem “likes”, seguidores e
visualizações; valores efémeros que como o insecto do mesmo nome, vivem apenas
para a posteridade. A grande diferença é que as efémeras vivem um dia intenso
em que procuram procriar e perdurar a espécie, vivem intensamente, para poderem
existir, enquanto estes falsos valores sociais nos encaminham para que não
existamos mais, mas pelo menos alguém fez “gosto”.
Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#18/2016)
Butterclock - First Prom EP - 2013
Butterclock, ou seja Laura Clock, é uma artista que intriga o ouvinte em todos os sentidos com o seu "Ambient". Este EP, "First Prom", conta a história de uma jornada pelo mundo, com letras eloquentes, sem falhas, um trabalho pleno de fragilidade e de balanço perfeito entre todos os elementos que compõem a sonoridade de Butterclock. Fiquem com a leveza de sons e voz de "Milky Words".
terça-feira, 3 de maio de 2016
segunda-feira, 2 de maio de 2016
Livros que nos devoram, por Luísa Félix (#04/2016)
"Loucura", de Mário de Sá-Carneiro


Que a loucura, no fundo, é como tantas outras, uma questão de maioria. A vida é uma convenção: isto é vermelho, aquilo é branco, unicamente porque se determinou chamar à cor disto vermelho e à cor daquilo branco. A maior parte dos homens adoptou um sistema determinado de convenções: é a gente de juízo... Pelo contrário, um número reduzido de indivíduos vê os objectos com outros olhos, chama-lhes outros nomes, pensa de maneira diferente, encara a vida de modo diverso. Como estão em minoria, são doidos...»
«Enganaram-se vocês e os médicos com isso a que chamaram loucura. O vosso espírito é demasiadamente acanhado para compreender tudo quanto não seja o comum... o vulgar (...).»
Mário de Sá-Carneiro, Loucura
A grandeza das obras não se mede, como a das pessoas, pelo tamanho. Podemos afirmá-lo acerca de “Loucura”, de Mário de Sá-Carneiro, poeta do “Orpheu”, como Pessoa e Almada Negreiros. A obra, que, na edição que tenho em meu poder, não tem mais de sessenta páginas, foi escrita em 1910, um ano significativo para Portugal, quer política quer socialmente. Talvez por isso traduza pessimismo e desalento face à existência.
A narração faz-se em primeira pessoa por aquele que é o amigo mais íntimo de Raúl Vilar, o protagonista. Raúl é um jovem rico, desocupado, a quem tudo aborrece. O seu temperamento inconstante leva-no a oscilar entre o desalento e as paixões extremas. Não acredita no amor e vê a literatura, em particular a poesia, como manifestação de sentimentalismo lamechas. Contudo, a sua visão do amor muda quando, numa festa, conhece Marcela, por quem desenvolve, inicialmente, um amor platónico, que redunda em amor físico, sobretudo depois do casamento. Esse amor por Marcela, que julga perfeita, leva-o a dedicar-se com afinco à escultura, produzindo algumas obras que fazem dele um artista da moda. Contudo o amor que dedica à esposa não o impede de a trair com uma das suas modelos.
Raúl vive obcecado com a passagem do tempo e com o envelhecimento, com a forma como este contribui para a degradação dos corpos. É esta obsessão que o leva a planear algo que constituirá, na sua óptica, uma forma de preservar a beleza de Marcela, a quem pretende dedicar amor eterno, e uma prova desse amor.
Auxiliado pelas suas memórias e pela leitura de um diário que o amigo deixou, o narrador passa em revista a vida de Raúl desde a infância, numa tentativa de justificar o seu acto, que outros julgaram um sinal de insanidade. Este périplo pela vida do protagonista serve ao narrador para refectir sobre temas como a loucura, o tema central da obra, o amor ou a arte.
Mário de Sá-Carneiro morreu há 100 anos, no dia 26 de Abril de 1916, com apenas 26 anos. Apesar da sua tenra idade e da sua vida curta, o autor deixou uma obra, que sendo breve, revela grande valor estético.
A autora, Luísa Félix, pode ser seguida no seu blogue, Letras são papéis.
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