Pesquisar neste blogue

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Feliz Animagem

Em véspera de Ano Novo, e após um ano de Animagem, para animar esta noite e muitas outras, a Pomar de Letras partilha a lista da curtas metragens que ao longo de 2015 foram partilhadas com o público. Um 2016 feliz. ;)




Livros que nos devoram por Luísa Félix (#11/2015)

Novelas Exemplares, de Miguel de Cervantes


«Yo soy el primero que he novelado en lengua castellana, que las muchas novelas que en ella andan impresas todas son traducidas de lenguas estranjeras, y éstas son mías propias, no imitadas ni hurtadas: mi ingenio las engendró, y las parió mi pluma, y van creciendo en los brazos de la estampa.»

«La poesía es una bellísima doncella, casta, honesta, discreta, aguda, retirada, y que se contiene en los límites de la discreción más alta. Es amiga de la soledad, las fuentes la entretienen, los prados la consuelan, los árboles la desenojan, las flores la alegran, y, finalmente, deleita y enseña a cuantos con ella comunican.»









Miguel de Cervantes, Novelas Ejemplares


Miguel de Cervantes (Alcalá de Henares, 1547 - Madrid, 1616) ficou sobretudo conhecido por ter escrito D. Quixote, que fez com que outras obras, como Novelas Exemplares, tenham sido relegadas para segundo plano.

O volume com o título de Novelas Exemplares, que teve como primeiro título Novelas ejemplares de honestíssimo entretenimiento, integra doze narrativas curtas, escritas entre 1590 e 1612. A acção destas narrativas gravita em torno de personagens-tipo, através das quais, o autor retrata a sociedade do seu tempo. 

Destaco deste conjunto de novelas O Velho Ciumento e O Licenciado , El Celoso Estremeño e El Licenciado Vidriera, no original. 

A primeira novela tem como protagonista um comerciante de idade avançada que casa com uma jovem. Ele é de tal modo ciumento que, para evitar que, na sua ausência, a esposa o traia ou seja abordada por outros homens, constrói uma casa sem janela e com uma só porta. Apesar deste esforço e de ter recomendado à criada que não permitisse que alguém entrasse em casa ou que a esposa saísse, esta acabou por traí-lo com um vendedor de azeite que conseguiu aceder à cozinha. 

A segunda revela-se igualmente curiosa. A personagem central é um jovem universitário que estuda em Salamanca e que acaba por enlouquecer. No seu estado de loucura, vê-se como um garrafão de vidro. O seu medo de se partir é tal que evita caminhar junto às casas para que nenhuma telha o parta.

Representativas da chamada literatura picaresca, estas novelas integram não só personagens bizarras e exageradas, tanto ao nível do carácter como do comportamento, como abordam temas cliché, como o ciuúme, a infidelidade, a loucura, o roubo, entre outros, lembrando, em certa medida, Gil Vicente.


A autora, Luísa Félix, pode ser seguida no seu blogue, Letras são papéis.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#52/2015)

A escolha desta semana, a última deste ano civil, recaiu sobre um autor de Macedo de Cavaleiros e que carrega no próprio apelido a literatura, particularmente a poesia. Primo e sobrinho de autores publicados e renomados, pareceu-me, somente, justo que o poema proposto fosse escolhido pela sua irmã, Elsa Pires Cabral, amante das letras e das palavras; de as dizer e de as ouvir. Outras escolhas da Elsa podem ser acompanhadas nos seus blogues "xushima" onde partilha alguns "mementos"; "dizerpoesia" onde a poesia nos chega nas suas palavras e nas de outros que com ela partilham essas palavras; e "words-not-thougts" página pessoal onde a poesia escorre das suas veias.
Da autoria do Miguel, escolhido pela sua irmã Elsa:


As pessoas preenchem espaços


As pessoas preenchem espaços.
Como se por obra da sua existência
se nos pudessem emprestar
um pouco daquilo que são.

Preenchem espaços e partilham,
coexistem-se no amor.
Ocupam a parte que lhes pertence
levando consigo um pouco de nós.

E o outono desencaminha-nos
entre sorrisos e abraços
que se não dão.
Por exemplo, no outro dia

imaginei – enquanto mijava –
amigos e o espaço que ocupam
no outono, quando a chuva
regressa e nos limita os corpos

criando lugares vagos
na nossa cabeça ou
dentro dos espaços
que a razão nos vaga.

E enquanto mijava pensei nos versos
e na poesia das pessoas
que ocupam espaços
e fazem parte de nós

daquilo que somos ou julgamos ser
dentro das nossas cabeças. Mas as
pessoas ocupam espaços, não o espaço
físico de uma sala de quatro paredes

mas antes os espaços que partilhamos
na nossa memória:
o espaço que dispomos
dentro da nossa cabeça ou coração.

É assim que os poemas se compõem
com este vagar de aranha
entre nós que se atam à vida
como a gente que se enreda por nós.

E é assim que os espaços se preenchem
nas nossas cabeças como se a voz
que trazemos por dentro
fosse um reflexo da nossa loucura

um espaço aberto e coberto de amor
entre outros espaços, prontos a partilhar.




(Montagem de Elsa Pires Cabral sobre imagem original de Masao Yamamoto.)

domingo, 27 de dezembro de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#52/2015)



Broke é uma banda Dinamarquesa que faz uma "electrónica" capaz de rivalizar com os aclamados Daft Punk (por exemplo). "Out Of Existence" é explosivo, dotado de grande classe e de uma energia muito específica. A fazer furor na Dinamarca, este duo prima pela audacidade e afirma que a melhor música que os define enquanto "banda" é mesmo a "Out Of Existence" que explora todas as características mencionadas. Para comprovar aqui fica, "Out Of Existence".


sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

SCREEN SHOT por A.A.M. (#52/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Clássico(s); Sessão dupla


São inúmeros os títulos que ano a ano nesta época se repetem, alguns deles já apelidados como “clássicos de Natal”. Entre eles: Assalto ao Arranha-céus (1988) , Assalto ao Aeroporto (1990), Sozinho em casa (1990), Eduardo Mãos-de-Tesoura (1990) e Milagre na Rua 34 (1994) entre outros; Sem serem necessárias muitas apresentações, destacam-se nesta edição natalícia dois dos eternos favoritos: O Estranho Mundo de Jack (1993) realizado por Henry Selick, produzido e co-escrito por Tim Burton; e Gremlins (1984) realizado por Joe Dante e produzido por Steven Spielberg. Votos de boas festas, muitos sonhos e rabanadas, mas lembrem-se… nunca depois da meia noite. Feliz Natal!




Undenied (Christmas) Pleasures

Pois é meus amigos, é Natal e couso e tal. Ontem deixámos de presente a lista de reprodução Animagem 2014, hoje é a vez de Undenied no sapatinho, as listas de 2015 chegam no Ano Novo, até lá passamos revista a 2014. Um abraço e boas festas. ;)


quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Animagem (#26/2015)

A natureza sempre proviu o homem do necessário, até da própria capacidade de tentar superá-la e suplantá-la; Mas poderá o homem substituir o amor e o prazer da vida e das cousas vivas? Invention of Love (*Invenção do Amor) é uma história simples de amor, saudade, natureza e máquinas, sobretudo, é uma história de vida e equilíbrio.




(*Tradução livre.)


E porque hoje a data é especial, a Pomar recomenda rever a lista de "Animagens" publicadas em 2014.


segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#51/2015)

Perplexidades


Tanto te quis dar e tanto te pedi
Que louco não te soube amar

E hoje não sei de ti.
Frágil e trémulo como uma lágrima é o amor

Sal de alegria pura

E de um módico de dor!


Valter Guerreiro

domingo, 20 de dezembro de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#51/2015)



Late Night Alumni é uma banda de "Downtempo" norte-americana cujo quarto álbum de originais, "The Beat Becomes A Sound", não desaponta e revela até onde esta banda consegue chegar com o magistral domínio do instrumental que se completa nas qualidades da voz de Becky Williams. Late Night Alumni demonstram que conseguem criar ambientes viciantes e capazes. A comprovar o mencionado temos "Summer Lies".


sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

SCREEN SHOT por A.A.M. (#51/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Filme: Tangerine (2015)
Realização: Sean Baker


Aclamado no festival Sundance, no género drama/comédia bem ao estilo de filme independente, Tangerine foi um dos filmes preferidos do público. Na véspera de Natal, Sin-Dee, uma rapariga transexual que acaba de sair da prisão, onde esteve um mês, descobre quando regressa ao seu bairro em Los Angeles que o seu namorado a anda a trair. Totalmente filmado através de um telemóvel, o que eleva o grau de dificuldade na sua criação e imaginação por forma a ultrapassar as suas limitações, mas ao mesmo tempo mostra o quão acessível se torna fazer cinema actualmente. Sem dúvida uma surpresa.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Ditados Impopulares (#25/2015)



"Uma expressão contra a elevada concentração de maldade no mesmo estabelecimento prisional, até porque estando espalhados é mais difícil evadirem-se."


Segue os Ditados Impopulares no facebook. ;)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#50/2015)

Setembro


Setembro ressuscita os nossos mortos
senta-os nas varandas onde secam os figos
e as casulas, onde cheira ainda a maçãs,
e ali, de mãos pousadas no regaço,
desfiam histórias antigas.

Tornam-nos a vida mais breve
essas horas curtas de Setembro,
em que reaprendemos o caminho
dos campos,
a carícia das mãos sobre as uvas,
o doce sumo dos frutos.

Neste mês de luz coada,
em que o sol põe arrepios sobre a pele,
que conserva ainda a memória do verão,
seguiste o caminho que te afastava de mim.

Das amoras, ficou-me esta tinta indelével
nas pontas dos dedos.


Luísa Félix

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#50/2015)



Schultz And Forever é, de acordo com o mentor da banda Jonathan Schultz, um "projecto de quarto". Descrito como um "Songwriter", atraiu atenção com as suas criações, primeiro com o EP "Odd Stories" e depois com este "Céline". Não só pela voz, mas também pelas letras, "Céline" deixa a impressão de alguém que já cometeu os seus erros e que agora olha para o passado e pode afirmar que aprendeu com os mesmos. Prima na simplicidade e nas suposições visuais. Fiquem com a qualidade do "single" "Two Flowers".


sábado, 12 de dezembro de 2015

SCREEN SHOT por A.A.M. (#50/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Filme: Star Wars: The Force Wakens [Star Wars: O Despertar da Força] (2015)
Realização: J.J. Abrams


O Despertar da Força! Apesar da grandeza do título, ainda assim não consegue comportar todo o anseio e o fluxo de entusiasmo mundial pela estreia do tão esperado filme da saga Star Wars. Desde o país mais civilizado ao "pueblo" mais longínquo, a extensão que a Força alcança é atualmente inimaginável. E nada melhor do que aproveitar os dias que antecedem a estreia, juntando-se ao frio que já se faz sentir, do que rever todos os episódios para saber em que ponto da história ficamos. Chewbacca, R2-D2, C3PO, Luke Skywalker, e o regresso de Harrison Ford como Han Solo, estão de novo juntos para combater a Nova Ordem do Império, com a data de estreia praticamente esgotada em todas as salas internacionalmente. Nas palavras do mestre: Hype do momento o assunto é, inevitável ver o filme será.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Animagem (#25/2015)

Produzida na Alemanha, em 1989 e realizada por Wolfgang e Christoph Lauenstein, Balance (*Equilíbrio), vencedora do Óscar para melhor Curta de Animação (1990), é uma reflexão sobre a ganância e a inveja; um ensaio sobre a cegueira do nosso cíume egoísta, instável e desequilibrado.




(*Tradução livre.)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#49/2015)

Língua Portuguesa


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!


Olavo Bilac

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#49/2015)



Misun são um trio de "Indie" que se apropria do estilo "Rock" dos 80´s, no entanto dão-lhe um toque moderno e fresco. "Darkroom" fica no ouvido, as letras no pensamento e as guitarras, bem como a bateria devolvem-nos o divertimento tão necessitado nos dias de hoje. Ou seja, a nível instrumental, Misun, são "selvagens" (no melhor dos sentidos).
Fiquem com "Darkroom".


sábado, 5 de dezembro de 2015

Democracia Chinesa por Paulo Seara

Democracia chinesa


Naquele dia despertei para o sarcasmo, a vida é preciso vivê-la apesar de tudo. Ao estudar a humanidade observamos todos os dias uma enorme capacidade de adaptação ao absurdo. Ninguém se apercebe, na maior parte das vezes, tão natural é como o respirar.

Durante os ritmos frenéticos de trabalho, em que os patrões fornicam quem trabalha, a cegueira fermenta descuidos, muitos amargos de boca, acidentes. Um prato de comida não é um prato de comida, desiludam-se. A comida é feita de suor, de talento, e de átomos. Alguns átomos, dispensaríamos, mas a cegueira no trabalho fermenta descuidos. 

Então foi assim, ou poderia não ter sido assim.

O forno do restaurante rebentava de canícula. Os patos assavam lançando sucos e odores. Cheirava a banha. Respigavam algumas gotas de sangue no aço inoxidável. As especiarias: gengibre, açúcar, sal chinês, cravinho coziam no esterno das aves. 

Naquele dia a limpeza do forno fora adiada para o termo nocturno. O cleaner tinha de abraçar todo o trabalho com que se deparava, e como que ao centro de uma praça, havia o imponente forno de assar patos. Era necessário abraçá-lo, para o abrir; desmontar a estrutura e executar a limpeza. Nem sempre assim era. Os dias não são dias, no que diz respeito à limpeza de um forno. 

Com o relógio em contagem decrescente, uma esfregona e dois baldes de água quente com detergente corregiam a limpeza da parte interna. Bastava uma forte e determinada esfregona, que rodopiava no forno de assar para terminar com o assunto. Se o metal meio embodegado voltasse a brilhar, nada mais interessava. Frio e absorto, no forno se tinha consolidado gordura; água da banha; crostas; e um cheiro que acabava impregnando as narinas, e fazia descer o estômago para os interstícios do vómito. 

Toda a mistela gordurosa terminava grudada nas tranças da esfregona. A esfregona nas mãos do cleaner; e as mãos transportando a esfregona bamboleante pelos ladrilhos, terminando enchafurdada nas taças dos sanitários, nos quais o cenário seria também catastrófico, se não houvesse uma limpeza diária. Isso mesmo, tal como vos parece, a esfregona saltava dos sanitários para o chão, e do chão para o forno de assar, e do forno de assar – sem mais delongas – para a rota que a levaria de novo à casa de banho dos trabalhadores. 

Pato assado à Pequim é muito bom, mas segundo as crónicas, não se deve levar à boca o que andou no cu. Regras de boa educação universal, mas isso diz respeito à degustação e não há preparação da iguaria.

Para todos os trabalhadores o pato assado era a iguaria da casa. Naquele dia chegaria (como todos os dia aliás) a toda a parte o cheiro do pato à Pequim. A roda, a grande roda do trabalho recomeçaria, e como sempre, no fim do dia, terminaria sem deixar quase nada. Os clientes, os trabalhadores (nem todos em abono da verdade), e o patrão comeram pato à Pequim com um ingrediente secreto: urina e fezes. Um pequeno nada de bactérias dissimuladas mais tarde nos molhos, e nas iguarias do restaurante. Sempre pensei que um desastre destes, tão tardio, com qualidades antiquadas não fosse acontecer naquele restaurante. Este foi um dos bolbos pútridos daquela monstruosa árvore das patacas.

A notícia das trocas de esfregonas, ou da perda da esfregona do forno dos patos, ficou meio abafada. Apenas o pessoal mais próximo, na sala de preparação, e três chefes souberam das peripécias da esfregona sapadora.

Quem ensinou – e estou a usar um termo sensível – os cleaners a limpar o forno dos patos, fora o velho Fang, retirado para uma reforma ocupacional. 



Se Goya ilustrou os desastres da guerra, eu aqui descrevo os desastres da cozinha. O desastre se não está no jantar, está no menu. Mas está sempre lá, até às 22.00 horas, depois, nem mais um minutos depois, não está. Porque não pode ser. Não dá! 

Decorreram alguns dias, após a poeira assentar, corri um risco. Brinquei com a situação abertamente, introduzindo política na cozinha, no meio de uma bateria de cozinha constituída por chineses. Foi num beco, tipicamente um beco com escadas ferrugentas, canos, estratificações de lixo, e merda de pombo.


Paulo Seara

SCREEN SHOT por A.A.M. (#49/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Série: The 100 (2014)
Produção: Jason Rothenberg


Toda a ação decorre 97 anos após uma guerra nuclear que destruiu toda a civilização e incapacitou o planeta Terra de condições básicas de habitabilidade. Os sobreviventes vivem agora a bordo de uma estação espacial que, com os seus recursos a escassear, se vêem forçados a encontrar soluções que garantam a sobrevivência da espécie Humana. Assim, 100 jovens delinquentes, em prisão na estação espacial, são enviados de novo à Terra para serem cobaias das condições de sobrevivência atuais no planeta. Neles são depositadas grandes esperanças e seus sinais vitais são monitorizados através de pulseiras. Durante a aterragem perdem todas as comunicações com a estação espacial à exceção das pulseiras vitais que continuam a enviar sinal, até que esses sinais, das 100 pessoas enviadas, começam drasticamente a diminuir.


terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Ditados Impopulares (#24/2015)



"Um provérbio mais soberano que a dívida e menos austero que as políticas."


Segue os Ditados Impopulares no facebook. ;)

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#48/2015) [Outra vez na Terça-Feira.]

O lobo das estepes


Eu, lobo das estepes, corro, corro,
a neve cobre o mundo,
da bétula branca levanta voo o corvo,
mas nunca aparece uma lebre, nunca aparece um cervo.
E como eu amo os cervos!
Se por acaso encontrasse algum,
prendia-o com garras e dentes:
é a coisa mais bela em que penso.
Com os sensíveis seria também sensível,
devorava-os todos de extremo a extremo,
bebia-lhes até ao fundo o sangue púrpura e espesso,
e solitariamente uivava pela noite dentro.
Contentava-me com uma lebre.
É tão doce à noite o sabor da sua carne quente.
Porventura foi-me negado tudo quanto possa, um pouco,
alegrar-me a vida, um pouco apenas?
A minha companheira, há muito que não a tenho,
o pêlo da minha cauda começa a ficar cor de cinza,
e só quando há bastante luz é que vejo.
Agora corro e sonho com cervos,
ouço o vento soprar nas grandes noites de Inverno,
e a minha alma dolorosa, entrego-a eu ao demónio.


Hermann Hesse (mudado para português por Herberto Helder)

domingo, 29 de novembro de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#48/2015)



Quinto álbum dos The Strokes, Comedown Machine, teve uma grandes recepção por parte da crítica, afirmando que o Indie Rock deste trabalho é provocativo e muito bem pensado, estranho e sexista, quer mantenha o vortex criativo dos tempos de "Is This It" ou não.
Fiquem com "50/50" que não fica aquém do expectável.


SCREEN SHOT por A.A.M. (#48/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Realização: Ingmar Bergman


Numa viagem entre o real e o surreal, um antigo médico e professor faz uma retrospetiva, numa formulação de pensamentos quase autobiográficos, em relação à sua existência. As escolhas de uma vida, fatores e critérios de decisão nessas mudanças, minuciosamente analisadas nessa viagem não só física como espiritual. Uma das obras mais aclamadas de Ingmar Bergman muito pelo seu género surreal, com interpretações de sonhos e a sua projeção, bem como a amargura do existencialismo e o olhar sobre os acontecimentos passados. Morangos Silvestres é um marco para a época e uma referência para outros autores, nunca deixará de ser… um clássico!


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Animagem (#24/2015)

Children (*Crianças), ou uma reflexão sobre um autómato presente e expectativas de um futuro pensante.




(*Tradução livre.)

Livros que nos devoram por Luísa Félix (#10/2015)

A metamorfose, de Franz Kafka


«Certa manhã, ao acordar após sonhos agitados, Gregor Samsa viu-se na sua cama, metamorfoseado num monstruoso insecto. Estava deitado de costas, umas costas tão duras como uma carapaça, e, ao levantar um pouco a cabeça, viu o seu ventre acastanhado, inchado e arredondado em anéis mais rígidos, sobre o qual o cobertor, quase a escorregar, dificilmente se mantinha. As suas numerosas patas, lamentavelmente raquíticas, comparadas com a sua corpulência, remexiam-se desesperadamente diante dos seus olhos.»




Franz Kafka, A metamorfose,
Público, Colecção «Mil Folhas»


Gregor Samsa é um vendedor, que vive com os pais e com a irmã. Funcionário e filho zeloso, levanta-se todos os dias bastante cedo para apanhar o comboio, que o leva a diferentes destinos. A sua maior preocupação é garantir o sustento da casa e saldar a dívida dos pais ao patrão. Sonha em poder pagar o Conservatório à irmã, que toca violino. 

Um dia, de chuva e de céu nublado, Gregor acorda um pouco mais tarde do que o habitual e vê-se transformado num insecto monstruoso que, pela descrição, se supõe ser uma barata. Pergunta-se se estará a viver um sonho, ocorrendo-lhe, depois, que possa estar a delirar, por não ter dormido o suficiente.

Apesar da metamorfose que se operou em si, atormenta-o, sobretudo, a impossibilidade de chegar a horas ao trabalho e a imagem de funcionário incompetente que dará de si. Enquanto está de costas, sem conseguir levantar-se, ele reflecte sobre a vida cansativa que leva e sobre o sonho adiado de ter um emprego que não o obrigue a dormir frequentemente fora de casa, a correr para os transportes e a alimentar-se mal e fora de horas.

Ao longo do tempo, ainda que no íntimo permaneça a mesma pessoa, Gregor vai sendo vítima da repulsa e do preconceito dos pais, das criadas e dos três cavalheiros que se hospedam lá em casa e que se sentem defraudados pela família, quando são confrontados com o seu aspecto monstruoso. A certa altura, até a própria irmã, que parece, durante muito tempo, ser a única com coragem suficiente para o alimentar e manter o quarto limpo, chega a desejar a sua morte.

A novela, publicada em plena Primeira Grande Guerra (1915), foi escrita em 1912, em língua alemã e tornou-se uma das obras mais lidas em todo o mundo, tendo sido, inclusive adaptada ao cinema.


A autora, Luísa Félix, pode ser seguida no seu blogue, Letras são papéis.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#47/2015)

Ícaro


Nando voou alto.
Alto, alto, tão alto.

Nando voou alto.
Alto, alto e mais alto.

Nando voou alto.
Alto! Alto! Alto!

E virou estrela…


Rogério Paulo E. Martins

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#47/2015)



Para os amantes de Cocteau Twins, temos aqui algo muito parecido em diversos aspectos, nos ambientes, na qualidade, nas composições sonoras... Empress Of, ou seja, Lorely Rodriguez é sem dúvida uma Imperatriz, como podemos comprovar neste seu EP de estreia, "Hat Trick". A beleza percorre este disco, revelando a forma fantástica em que Rodriguez está, pensando nas músicas grandiosas anteriores por ela divulgadas, floresce numa produção futurista e se o futuro passa por aqui, meus amigos, estamos bem entregues. Fiquem com "Hat Trick".


SCREEN SHOT por A.A.M. (#47/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Filme: He named me Malala [Malala] (2015)
Realização: Davis Guggenheim


Filme, documentário, retrata os acontecimentos que marcaram a vida de uma jovem paquistanesa atacada pelos Talibã. Malala não é uma jovem qualquer. Malala Yousafzai. Malala Yousafzai. Malala Yousafzai. Não é demais repetir o seu nome invocando aquilo que representa. Defendora acérrima dos direitos à educação sobretudo das mulheres foi galardoada em Outubro de 2014 com o prémio Nobel da Paz. É, em paralelo com o livro, uma marca para a sociedade atual, de conflitos, e politicas de interesse, em que é apresentado um ponto de partida para a resolução de questões problemáticas: o acesso à educação.Eu, Malala, é o titulo do livro. Eu, tu, nós.. todos juntos continuaremos a sua missão.


Ditados Impopulares (#23/2015)



"Um provérbio com, pelo menos, dupla tributação fiscal."


Segue os Ditados Impopulares no facebook. ;)

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#46/2015)

A saudade é uma folha morta caída no chão!


amo o vazio das dúvidas consistentes
os preceitos elaborados não me incomodam
e também nunca vejo uma boa solução
ouvi dizer
que a beleza das coisas fica sempre no meio
termo que poucas vezes se consegue tocar
lá fora
se há névoa, chuva ou vento a todos pesa
o tempero do carácter e a deformação social
ainda
na minha boca desliza a palavra como o ocaso
cedendo ao instante liquido da tranquilidade
enquanto
regresso ao colo onde me sinto menina
como quem volta a casa por um instante
cá dentro
quebram-se os limites da própria morte
ateia-se o lume às nuvens para que derretam
augura-se uma nova existência


Paula Santos

domingo, 15 de novembro de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#46/2015)



Voltamos ao "Indie Rock" para ouvir, directamente da Escandinávia, Fallulah e o seu álbum "Out Of It". Com uma voz altamente apetecível, este trabalho de Fallulah já obteve grande sucesso, denota substância e uma sofisticação interessante. Para os lados frios da Escandinávia temos a diversidade e adaptabilidade não só ao meio envolvente, mas também aos requisitos Europeus no que concerne este estilo musical.
Fiquem com a música que dá nome ao álbum, "Out Of It".


sábado, 14 de novembro de 2015

SCREEN SHOT por A.A.M. (#46/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Filme: Inside Out ]Divertida Mente] (2015)
Realização: Pete Docter, Ronnie Del Carmen


A Alegria, o Medo, a Raiva, a Repulsa e a Tristeza são personificadas no cérebro de uma jovem menina, Riley. Quando o seu pai muda de emprego, toda a família tem de se deslocar da sua pacata vila no Minnesota para a grande cidade de São Francisco e com essa mudança surgem as mais variadas emoções que conduzidas pela Alegria, no seu cérebro, fazem com que a vida de Riley nunca deixe de ser feliz. No entanto quando a Alegria e a Tristeza se perdem, a Raiva e o Medo aproveitam e assumem o comando da vida da menina de 11 anos que se vê sujeita a explosivas variações de humor devido às traquinices de certas emoções. Mais um belo trabalho da equipa Pixar.


quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Animagem (#23/2015)

Strange Fruit (*Fruta Alheia) é uma curta-metragem israelita sobre xenofobia e o absurdo da discriminação e repressão em nome de falsos valores de igualdade e superioridade. Produzida e realizada na Academia de Artes e Design Bezalel, em Jerusálem, esta curta enfaixa em gaze as feridas que meio século ainda não sarou.




(*Tradução livre.)

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Ditados Impopulares (#22/2015)



"Um provérbio ideal para jantares em que a comida até pode não ser grande coisa porque importa mais a música ambiente, a sessão de poesia ou simplesmente a companhia."

Segue os Ditados Impopulares no facebook. ;)

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#45/2015)

O Noivado do Sepulcro


Vai alta a lua! na mansão da morte
Já meia-noite com vagar soou;
Que paz tranquila; dos vaivéns da sorte
Só tem descanso quem ali baixou.

Que paz tranquila!... mas eis longe, ao longe
Funérea campa com fragor rangeu;
Branco fantasma semelhante a um monge,

D'entre os sepulcros a cabeça ergueu.

Ergueu-se, ergueu-se!... na amplidão celeste
Campeia a lua com sinistra luz;
O vento geme no feral cipreste,
O mocho pia na marmórea cruz.

Ergueu-se, ergueu-se!... com sombrio espanto
Olhou em roda... não achou ninguém...
Por entre as campas, arrastando o manto,
Com lentos passos caminhou além.

Chegando perto duma cruz alçada,
Que entre ciprestes alvejava ao fim,
Parou, sentou-se e com a voz magoada
Os ecos tristes acordou assim:

"Mulher formosa, que adorei na vida,
"E que na tumba não cessei d'amar,
"Por que atraiçoas, desleal, mentida,
"O amor eterno que te ouvi jurar?

"Amor! engano que na campa finda,
"Que a morte despe da ilusão falaz:
"Quem d'entre os vivos se lembrara ainda
"Do pobre morto que na terra jaz?

"Abandonado neste chão repousa
"Há já três dias, e não vens aqui...
"Ai, quão pesada me tem sido a lousa
"Sobre este peito que bateu por ti!

"Ai, quão pesada me tem sido!" e em meio,
A fronte exausta lhe pendeu na mão,
E entre soluços arrancou do seio
Fundo suspiro de cruel paixão.

"Talvez que rindo dos protestos nossos,
"Gozes com outro d'infernal prazer;
"E o olvido cobrirá meus ossos
"Na fria terra sem vingança ter!

- "Oh nunca, nunca!" de saudade infinda,
Responde um eco suspirando além...
- "Oh nunca, nunca!" repetiu ainda
Formosa virgem que em seus braços tem.

Cobrem-lhe as formas divinas, airosas,
Longas roupagens de nevada cor;
Singela c'roa de virgínias rosas
Lhe cerca a fronte dum mortal palor.

"Não, não perdeste meu amor jurado:
"Vês este peito? reina a morte aqui...
"É já sem forças, ai de mim, gelado,
"Mas inda pulsa com amor por ti.

"Feliz que pude acompanhar-te ao fundo
"Da sepultura, sucumbindo à dor:
"Deixei a vida... que importava o mundo,
"O mundo em trevas sem a luz do amor?

"Saudosa ao longe vês no céu a lua?
- "Oh vejo sim... recordação fatal!
- "Foi à luz dela que jurei ser tua
"Durante a vida, e na mansão final.

"Oh vem! se nunca te cingi ao peito,
"Hoje o sepulcro nos reúne enfim...
"Quero o repouso de teu frio leito,
"Quero-te unido para sempre a mim!"

E ao som dos pios do cantor funéreo,
E à luz da lua de sinistro alvor,
Junto ao cruzeiro, sepulcral mistério
Foi celebrado, d'infeliz amor.

Quando risonho despontava o dia,
Já desse drama nada havia então,
Mais que uma tumba funeral vazia,
Quebrada a lousa por ignota mão.

Porém mais tarde, quando foi volvido
Das sepulturas o gelado pó,
Dois esqueletos, um ao outro unido,
Foram achados num sepulcro só.



Soares de Passos

domingo, 8 de novembro de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#45/2015)



Jay Jay Johanson lançou há dois anos o seu Best Of. Não sou propriamente de "Best Ofs", mas há que dar o mérito a Johanson, a selecção não está nada má e ainda incluí versões nunca divulgadas. Conhecido pelo seu Synthpop, Electroclash, Trip-hop e por tantas, tantas músicas de grande qualidade, como Believe In Us; Milan, Madrid, Chicago, Paris, entre várias, este apanhado à sua carreira faz jus a este Homem oriundo da Suécia. Temos a beleza, temos a melodia, as divagações e a ousadia. Para ouvir novamente, cá está a "Believe In Us".


SCREEN SHOT por A.A.M. (#45/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Série: Supergirl (2015)
Criação: Ali Adler, Greg Berlanti, Andrew Kreisberg


Para além dos filmes, dos quais sou declarado fã, vi também durante algum tempo as séries relacionadas: Lois & Clark: As Novas Aventuras do Super-Homem e Smallville. O Super-Homem é o super herói por excelência. Nesta nova série é-nos apresentada a personagem já conhecida da DC Comics e criada por Otto Binder e Al Plastino, a Supergirl. Prima de Kal-El, estreou-se em Outubro nas suas aventuras em nome próprio e promete dar que falar no mundo das heroínas. Up and Away!


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Ditados Impopulares (#21/2015)

(Os ditados Impopulares estiveram offline, por motivos técnicos, mas estão de volta à Pomar de Letras e ao facebook.)




"Um provérbio que todos os entaipadores de escolas e bibliotecas deveriam saber, uma vez que o conhecimento nunca está ilegal em edifícios públicos devolutos."

Segue os Ditados Impopulares no facebook. ;)

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#44/2015)

Cansaço


O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...


Fernando Pessoa - Álvaro de Campos

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#44/2015)



Conhecidos pelos estilos Neoclassic, Downtempo e Trip-hop, Nazar Traunm & MoVoX lançaram, em 2013, Nothing Is Going Wrong, álbum que conta com a voz de Oda May e Chris para fornecer carácter a um trabalho que nos envolve com as suas variações rítmicas, como uma espécie de onda a passar por cima de nós quando estamos debaixo de água. Nothing Is Going Wrong poderá suscitar dúvidas, mas caro leitor, rapidamente desaparecem com a sonoridade criada.
Fiquem com Nothing Is Going Wrong, o álbum na integra.


sexta-feira, 30 de outubro de 2015

SCREEN SHOT por A.A.M. (#44/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Realização: Fritz Lang


Enquadrado no estilo americano de Film Noir, Almas Perversas, realizado pelo mestre das artes cinematográficas Fritz Lang, é um filme de suspense criminal bem ao estilo da época, no dito ano de 1945. Acusado de ser imoral e corrupto, o filme chegou a ser proibido por retratar uma obsessão amorosa de um homem de meia-idade de classe média por uma rapariga da plebe com a qual combina um estratagema criminoso. Cenografia e técnica ao melhor nível, com um elenco conceituado, é na sua conceção um dos grandes filmes do género.


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Animagem (#22/2015)

Dark Side (*Desconhecido), literalmente Lado Negro, invocar-nos-á, certamente, à memória a saga Guerra das Estrelas - e o seu desconhecido poder, clamado por Darth Vader - ou o fantástico álbum dos britânicos Pink Floid, The Dark Side of the Moon. No primeiro caso, o dark side refere-se mesmo a um lado negro, sombrio, o uso maligno da Força; no caso dos segundos, "O Lado Negro da Lua", refere-se à face oculta da lua, aquela que nunca nos é revelada quando da Terra olhamos o astro satélite extasiados.

Dark Side centra-se (mais) na segunda acepção, no sentido do desconhecido e da sua amedrontada e insciente exploração, impelida pela inata curiosidade do ser consciente; porém, não descura o sentido sombrio também este inato aos seres vivos e ao nosso sentido de sobrevivência.




(*Tradução livre.)

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Livros que nos devoram por Luísa Félix (#09/2015)

Aparição de Vergílio Ferreira


«Sento-me aqui nesta sala vazia e relembro. Uma lua quente de verão entra pela varanda, ilumina uma jarra de flores sobre a mesa. Olho essa jarra, essas flores, e escuto o indício de um rumor de vida, o sinal obscuro de uma memória de origens. No chão da velha casa a água da lua fascina-me. Tento, há quantos anos, vencer a dureza dos dias, das ideias solidificadas, a espessura dos hábitos, que me constrange e tranquiliza. Tento descobrir a face última das coisas e ler aí a minha verdade perfeita. Mas tudo esquece tão cedo, tudo é tão cedo inacessível.»


Vergílio Ferreira, Aparição, Bertrand Editora


Muitos são aqueles que leram Aparição, de Vergílio Ferreira; outros talvez tenham ficado apenas com uma ideia da intriga, das aulas de Português de 12.º ano, uma vez que, durante alguns anos, foi leitura obrigatória da disciplina.

A obra, publicada em 1959, tem como protagonista Alberto Soares, um recém-licenciado, que inicia a sua carreira de professor de liceu em Évora. A acção da obra decorre num período de nove meses, correspondente a um ano letivo, durante o qual Alberto convive com a família do Dr. Moura, antigo colega do pai, que tem três filhas – Cristina, ainda criança, Sofia e Ana. 

A história é contada por um narrador de primeira pessoa, que recorda, muitos anos depois, na sua casa da Beira Interior, onde a montanha se assume como espaço mítico, os acontecimentos que vivenciou nesse ano lectivo na cidade alentejana, com a lucidez que a distância temporal e a maturidade lhe proporcionam.

Quando chega a Évora, Alberto Soares é um jovem enlutado pela morte do pai. Começa por se instalar numa pensão no centro da cidade, optando depois por viver sozinho numa casa num ponto mais elevado, de onde pode observar a cidade, que, aos seus olhos, surge como um lugar labiríntico, luminoso, mitificado e, por isso, irreal.

Em Évora, o protagonista depara-se com uma sociedade conservadora, marcadamente estratificada e católica. Na escola, nas suas aulas, e no convívio com a família Moura, em particular com Sofia, com quem manterá um relacionamento algo tortuoso, procura transmitir as suas ideias filosóficas, nascidas da influência de Nietzsche e do existencialismo. 

Em particular depois de uma viagem que empreende nas férias da Páscoa, e que resulta numa viagem interior e de autoconhecimento, em que se dá uma espécie de aparição – do “eu” a si próprio -, Alberto Soares vê-se como uma espécie de messias portador de uma boa nova, que não pode deixar de transmitir a todos. As suas ideias embora encontrem resistência, acabam por abalar as certezas de Ana, a filha mais velha do Dr. Moura, «bem» casada com um engenheiro de «boa família», por despertar a tragicidade e a rebeldia de Sofia, a filha do meio, e a loucura de Carolino, o «Bexiguinha», um aluno que começa por admirá-lo, acabando, posteriormente, por se revoltar, na atitude da criatura que se insurge contra a divindade.

Mais do que um romance, Aparição constitui uma reflexão sobre a condição humana e sobre a sua relação com a divindade, e um documento do Portugal dos anos 50 do século XX, marcado pelo conservadorismo e pela repressão.


A autora, Luísa Félix, pode ser seguida no seu blogue, Letras são papéis.