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terça-feira, 29 de março de 2016

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#13/2016)

(É uma Segunda metafórica...)


Escrever 


Se eu pudesse havia de... de...
transformar as palavras em clava!
havia de escrever rijamente.
Cada palavra seca, irressonante!
Sem música, como um gesto,
uma pancada brusca e sóbria.
Para quê,
mas para quê todo o artifício
da composição sintáctica e métrica,
este arredondado linguístico?
Gostava de atirar palavras.
Rápidas, secas e bárbaras: pedradas!
Sentidos próprios em tudo.
Amo? Amo ou não amo!
Vejo, admiro, desejo?
Ou não... ou sim.
E, como isto, continuando...

E gostava, para as infinitamente delicadas coisas do espírito
(quais? mas quais?)
em oposição com a braveza
do jogo da pedrada,
da pontaria às coisas certas e negadas,
gostava...
de escrever com um fio de água!
um fio que nada traçasse...
fino e sem cor... medroso...
Ó infinitamente delicadas coisas do espírito...
Amor que se não tem,
desejo dispersivo,
sofrimento indefinido,
ideia incontornada,
apreços, gostos fugitivos...
Ai, o fio da água,
o próprio fio da água poderia
sobre vós passar, transparentemente...
ou seguir-vos, humilde e tranquilo? 


Irene Lisboa

segunda-feira, 28 de março de 2016

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#13/2016)

Syd Arthur - On An On - 2012





Syd Arthur é uma banda que conjuga guitarras progressivas com Folk e letras fortes que captam a atenção dos ouvintes. "On An On", de 2012, mostra um controlo rítmico nos "riffs" que poucos conseguem. Os elementos progressivos encaixam na perfeição fazendo então um combo de energia extraordinário, conseguindo que as músicas se tornem numa espécie de vício inquebrável. A confirmar está a "Ode To The Summer".


domingo, 27 de março de 2016

Conto do Beijo Negro com Três Grandes Conselhos de Aires 6/10 (Obra de Paulo Seara)

Lê, ou relê, as partes anteriores; 1234; 5;


Conto do Beijo Negro com Três Grandes Conselhos de Aires



6


Um cliente do Aires, teve um dia mau em casa e não estava com coragem para enfrentar a mulher. Tudo por causa de uma tomada eléctrica que provocou um curto circuito durante a madrugada. A vizinhança alertada, chamou os bombeiros que surpreenderam a mulher dormindo nua em casa. Nessa noite ele tinha estado de serviço pois era segurança num banco. Estupefacto, o Aires alertou-o para ter cuidado com as tomadas eléctricas e para que nunca lhes mijasse em cima. E abordando-o mais tarde, disse-lhe, confessionalmente, que o mijo era bom para limpar as feridas pois tinha o mesmo efeito que a água oxigenada. Depois de uma longa conversa o Aires decidiu oferecer uma dupla dose de Martini misturada com o pénis. Teve pena do gajo.
Naquela conversa ninguém falou de Beijos Negros.

SCREEN SHOT por A.A.M. (#13/2016)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Clássico: The Greatest Story Ever Told [A Maior História de Todos os Tempos] (1965)
Realização: George StevensDavid Lean e Jean Negulesco (não creditados)


Páscoa não seria Páscoa sem as tardes de filmes de temática apropriada à época sobre a vida de Jesus Cristo. O clássico deste fim de semana santo, A Maior História de Todos os Tempos, tem também presença regular nas nossas televisões. De duração quase sempre muito extensa, este como outros, relata toda a história desde o nascimento, a vida, morte e ressurreição de Jesus. Várias nomeações tornam este filme um êxito de 1965 onde protagonizavam Max von Sydow, Martin Landau, Charlton Heston, Claude Rains. Para além de folares, filhós e doçaria de vários géneros, em tardes de repasto longos minutos relembravam a mais bela história que desde bem pequenos era atualizada nesta altura. Um clássico para a eternidade.




Nota do Editor:

Nesta edição de 2016, o treze revelou-se um número fatídico para a rubrica SCREEN SHOT, infelizmente, compromissos profissionais tornaram inviável a continuação da colaboração do André com a Pomar e, consequentemente, o término desta rubrica. Resta-nos agradecer ao André a sua colaboração connosco e desejar-lhe felicidades e um futuro promissor, enquanto esperamos que ele possa voltar a colaborar connosco. Entretanto, ainda sem uma proposta alternativa, a sessão de cinema vai para intervalo na Pomar de Letras e retomará assim que possível.
Aproveito ainda para pedir desculpa pelos atrasos nas publicações, mas motivos profissionais, também, complicam as rotinas do blogue.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Poesia de primeira, à Sexta-Feira (#12/2016)

Para celebrar o dia mundial da poesia (21 de Março), durante esta semana, todos os dias haverá Poesia de primeira; dois poemas, um da autoria dos nossos colaboradores, o outro um poema de um autor escolhido por outro colaborador. Uma boa semana, boa Primavera, e boas leituras.




Uniões I



Ideias, conceitos, vogo até ao termo despropositado de vulgares ideais idealizados, deambulatórios no pináculo sobriamente divagado nas curvas que te comandam… vozes aleatórias que perseguem o corpo, tributos turvos de atribulados espaços errantes, captas a instância, prevaleces na figura, observas atentamente aquele ponto que te persegue, deslumbras-te no vazio e consomes-te no tecido… Espraias-te no zimbório tocando com teus dedos, humedecidos no sexo, as extremidades das constelações esquecidas e deixas-te guiar para o papel. Pelo papel renasces bela, adormecida, dormindo num pesadelo de cetim, onde tu, Cronos, regurgitando teus filhos, te perdes na embriaguez das vagas encrespando seu abraço em teu redor. Num suave toque de seda, deixas-te deslumbrar pela ausência idealizada em mecanismos anatematizados pelo torpor do ódio enquanto olhas, captando o vazio. Deixas que o algodão te toque, doce como o mar.


Nuno Baptista e Rogério Paulo E. Martins


Espaços em Branco


Ao fim da noite, no frio do táxi, pousas 
a cabeça no meu ombro - e assim entramos 
duma vez e inteiramente na nossa vida. 
Lá fora, pelo contrário, tudo perde realidade; 

há em toda a parte um sossego abstracto, 
as ruas parecem pintadas - betão entre 
as árvores - numa tela baça. Vamos por lugares 
que não reconheço, a minha geografia é vaga 

e omissa como a dos velhos cartógrafos 
que desenhavam um mundo cheio de espaços 
em branco. É onde estamos agora, num 
intervalo do mapa rente à primeira manhã - 

que será a nossa e também a última.


Rui Pires Cabral

quinta-feira, 24 de março de 2016

Poesia de primeira, à Quinta-Feira (#12/2016)

Para celebrar o dia mundial da poesia (21 de Março), durante esta semana, todos os dias haverá Poesia de primeira; dois poemas, um da autoria dos nossos colaboradores, o outro um poema de um autor escolhido por outro colaborador. Uma boa semana, boa Primavera, e boas leituras.


Há um esquisso de intimidade


Há um esquisso de intimidade
nesse aroma de café
que inaugura a manhã e que,
a conta-gotas,
se imiscui no cheiro
permanente dos livros.

Há um secreto aconchego
nessa luz de sol morno
que entra pela janela,
nesse silêncio cortado, a espaços,
pelas vozes abafadas dos vizinhos.

Sobram ecos da infância
no tilintar da loiça
dos almoços dos outros,
no aroma familiar
do assado de domingo,
nas conversas cruzadas
que adivinho…

E tudo, de uma vez só,
me assalta:
o torpor das tardes de estio,
o cheiro dos limos
e das malápias,
as brincadeiras depois da escola,
os rostos amigos…

E tudo, como cenas
de um filme mudo,
agarro, como, num ápice,
tudo perco…


Luísa Félix


Uma chama não chama a mesma chama


uma chama não chama a mesma chama
há uma outra chama que se chama
em cada chama que chama pela chama
que a chama no chamar se incendeia

um nome não nome o mesmo nome
um outro nome nome que nomeia
em cada nome o meio pelo nome
que o nome no nome se incendeia

uma chama um nome a mesma chama
há um outro nome que se chama
em cada nome o chama pelo nome
que a chama no nome se incendeia

um nome uma chama o mesmo nome
há uma outra chama que nomeia
em cada chama o nome que se chama
o nome que na chama se incendeia


E.M. de Mello e Castro

quarta-feira, 23 de março de 2016

Poesia de primeira, à Quarta-Feira (#12/2016)

Para celebrar o dia mundial da poesia (21 de Março), durante esta semana, todos os dias haverá Poesia de primeira; dois poemas, um da autoria dos nossos colaboradores, o outro um poema de um autor escolhido por outro colaborador. Uma boa semana, boa Primavera, e boas leituras.




Água curva


Uma vez ouvi: “O equilíbrio é bom, é cair sempre para o mesmo lado.”
…recebi de forma irónica e engraçada essa informação…
…Engraçado pensar nisso quando a cor dos teus olhos muda
consoante o teu estado de espírito, 
adorei reparar nesse pormenor enquanto choravas…
…Abraçar-te é chorar sozinho…
…Fala comigo como o amor…


Albano Leal Ribeiro


O pai


Um pai morto teria sido talvez
Um melhor pai. O preferível
É um pai nado-morto.
Não pára de crescer a erva sobre a fronteira.
A erva deve ser arrancada
De novo e de novo que cresce sobre a fronteira.

Gostaria que o meu pai tivesse sido um tubarão
Que tivesse despedaçado quarenta baleeiros
(E no seu sangue eu teria aprendido a nadar)
Minha mãe uma baleia azul meu nome Lautréamont
Morto em Paris
1871 desconhecido.


Heiner Müller (Tradução de Adolfo Luxúria Canibal)


terça-feira, 22 de março de 2016

Poesia de primeira, à Terça-Feira (#12/2016)

Para celebrar o dia mundial da poesia (21 de Março), durante esta semana, todos os dias haverá Poesia de primeira; dois poemas, um da autoria dos nossos colaboradores, o outro um poema de um autor escolhido por outro colaborador. Uma boa semana, boa Primavera, e boas leituras.


O dia quente amolece
Entre os ramos da ameixeira
E o sol das folhas tece
Uma repousante esteira.
Em que me deito por dentro
E me levanto por fora,
Do seu tronco, o meu centro,
Em ramagem indo embora.
Plácidas flores lhe colhi,
Frutados sabores provei,
Sob a sombra que escolhi
Quando por ali passei.


Hugo Carabineiro




insones


Fumam à janela, o vento frio
desfaz o fumo, os dedos tremem.
Não sabem uns dos outros,
espalhados pela cidade, mas
procuram as luzes ainda acesas
noutras casas. Noite dentro,
o silêncio dos que dormem
é uma afronta, desleixo pueril
de quem consegue ignorar
as facadas do tempo, a areia
entre os dedos, o sobressalto.


José Mário Silva

Ditados Impopulares (#06/2016)



"Um provérbio que não se evade à vontade de comer."


Segue os Ditados Impopulares no facebook. ;)

segunda-feira, 21 de março de 2016

SCREEN SHOT por A.A.M. (Especial Primavera 2016)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Para comemorar o Equinócito da Primavera deixamos uma sugestão multifacetada conjuntamente celebrando o dia mundial da poesia com as propostas que se seguem: 


Um poema presente num filme 

Before Sunrise (1995) – Richard Lnklater
“As I Walked Out One Evening” - W. H Auden 




As I Walked Out One Evening 


As I walked out one evening, 
Walking down Bristol Street, 
The crowds upon the pavement 
Were fields of harvest wheat. 

And down by the brimming river 
I heard a lover sing 
Under an arch of the railway: 
'Love has no ending. 

'I'll love you, dear, I'll love you 
Till China and Africa meet, 
And the river jumps over the mountain 
And the salmon sing in the street, 

'I'll love you till the ocean 
Is folded and hung up to dry 
And the seven stars go squawking 
Like geese about the sky. 

'The years shall run like rabbits, 
For in my arms I hold 
The Flower of the Ages, 
And the first love of the world.' 

But all the clocks in the city 
Began to whirr and chime: 
'O let not Time deceive you, 
You cannot conquer Time. 

'In the burrows of the Nightmare 
Where Justice naked is, 
Time watches from the shadow 
And coughs when you would kiss. 

'In headaches and in worry 
Vaguely life leaks away, 
And Time will have his fancy 
To-morrow or to-day. 

'Into many a green valley 
Drifts the appalling snow; 
Time breaks the threaded dances 
And the diver's brilliant bow. 

'O plunge your hands in water, 
Plunge them in up to the wrist; 
Stare, stare in the basin 
And wonder what you've missed. 

'The glacier knocks in the cupboard, 
The desert sighs in the bed, 
And the crack in the tea-cup opens 
A lane to the land of the dead. 

'Where the beggars raffle the banknotes 
And the Giant is enchanting to Jack, 
And the Lily-white Boy is a Roarer, 
And Jill goes down on her back. 

'O look, look in the mirror? 
O look in your distress: 
Life remains a blessing 
Although you cannot bless. 

'O stand, stand at the window 
As the tears scald and start; 
You shall love your crooked neighbour 
With your crooked heart.' 

It was late, late in the evening, 
The lovers they were gone; 
The clocks had ceased their chiming, 
And the deep river ran on.


W. H Auden


Um filme em formato poema:


“Vincent” curta metragem por Tim Burton narrado por Vincent Price




Um poema:


Os meus versos 


Rasga esses versos que eu te fiz, Amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!...

Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente...

Rasgas os meus versos... Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!...


Florbela Espanca


Um filme:


Citizen Kane – Orson Welles 1941


Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#12/2016)

Para celebrar a entrada da Primavera e o dia mundial da poesia, durante esta semana, todos os dias haverá Poesia de primeira; dois poemas, um da autoria dos nossos colaboradores, o outro um poema de um autor escolhido por outro colaborador. Uma boa semana, boa Primavera, e boas leituras.


Juventude no Sainsburys


Em Edimburgo


Juventude que saíste à rua com todas as profissões
São oito horas, nada tens e ficas incendiada a pensar no jantar.
A pasta fresca e os molhos abraçam o leite de uma libra
No saco laranja de um pôr-do-sol na fina película do dia

Como era ontem, agora e sempre na suturação da candura laboral
Esta juventude de cientistas vai para os quartos níveos
Aumentam os níveis de ansiedade sob o olhar atento da Igreja de Tron
E as inquietações carambolam policiadas pelos amigos distantes.

Juventude de todas as conclusões das mais curtas às longas
Não conheceste o tear, e a roda, e as palavras dos subordinados dos teus pais
Juventude de países de primeiro mundo alimentando o carbono dos mercados
Os teus exércitos populares insurgem-se para ir cantar aos jurados.

Dedica-se à palavra, não; então à rima, não;
Recria-se na mesma cultura, das mesmas andaduras
Os ciclos de verduras encarreiradas. E os cabelos ondulados
E os familiares de veludos e de trajes de luzes
Azuis de orgulho, dourados de cinismo, fazem a plateia.

Ilumina-se com este chicote, esta era de novos pobres
Sem pulso para rasgar o nevoeiro, esperando o messias num pacote de bolachas.
Contemplam a terra plantada de escravos
Com corpos de vidro.

Levaste ovos para casa, mas ficaram podres.
Não te preocupes as galinhas tratam de ti.
Eu trato de ti, sou uma fralda, amparo os teus humores,
Sou a alface no teu traje de luces.
A parra do te deum olha por vós
E vós por vós olhais.

(06.07.2014)


Paulo Seara


Um homem tem de viver.


Um homem tem de viver.
E tu vê lá não te fiques
- um homem tem de viver
com um pé na Primavera.

Tem de viver
cheio de luz. Saber
um dia com uma saudade burra
dizer adeus a tudo isto.
Um homem (um barco) até ao fim da noite
cantará coisas, irá nadando
por dentro da sua alegria.

Cheio de luz - como um sol.
Beberá na boca da amada.
Fará um filho.
Versos.
Será assaltado pelo mundo.
Caminhará no meio dos desastres,
no meio de mistérios e imprecisões.
Engolirá fogo.

Palavra, um homem tem de ser
prodigioso.
Porque é arriscado ser-se um homem.
É tão difícil, é
(com a precaridade de todos os nomes)
o começo apenas.


Fernando Assis Pacheco

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#12/2016)

Young Galaxy - Ultramarine - 2013





Os Young Galaxy são um duo Canadiano de Indie Pop que lançou o álbum "Ultramarine" no dia 2 de Abril de 2013. Considerados como brilhantes, a voz de Catherine McCandless é hipnotizante, o que potencia a qualidade das músicas criadas para este trabalho. Young Galaxy mostra maturidade e objectivos nítidos neste "Ultramarine" que conquistou a crítica e aumentou a legião de fãs. Fiquem com "New Summer".


sábado, 19 de março de 2016

Conto do Beijo Negro com Três Grandes Conselhos de Aires 5/10 (Obra de Paulo Seara)

Lê, ou relê, as partes anteriores; 123; 4;


Conto do Beijo Negro com Três Grandes Conselhos de Aires



5


Certo dia o Aires perguntou à namorada se sabia o que era um Beijo Negro. Ela pensou que era uma mamada; ficando com asco e incomodada disse-lhe que era um badalhoco. Entretanto o Aires pensou caladinho – Se soubesses que mexo as bebidas do bar com a pila passavas-te e deixavas-me. Se soubesses que mijo nas feridas para sará-las. Chamar-me-ias porco imundo, abjecto e anormal. Mas eu sei que me amas apesar das minhas estouvadas ideias, porque gostas de te agarrar a um homem nu durante as noites quentes dos meses de verão.

SCREEN SHOT por A.A.M. (#12/2016)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Filme: Balada de Um Batráquio (2016)
Realização: Leonor Teles


Foi uma das surpresas da última edição da Festa Internacional de Cinema de Berlim – Berninale, e sem dúvida um dos momentos mais inesquecíveis para a jovem artista Leonor Teles. No seu discurso, agradeceu incrédula o prémio, coletando os louros de uma aclamação que no decorrer do próprio festival já viera recolhendo de outros participantes e espetadores. A Balada de Um Batráquio, relata a muito presente e atual discriminação para com a comunidade cigana, fazendo-se demonstrar através da figura de um sapo de loiça. Tendo Leonor Teles origem cigana, pois seu pai é cigano, decide expor o que desde jovem vem reconhecendo como uma mensagem subliminar exposta em vários estabelecimentos públicos sobre a forma dessa estátua figura de sapo verde. O que ela faz, neste pequeno filme de 11 minutos, é não só um protesto como uma aclamação. Uma balada que agora fica para a história do cinema português e internacional.


quinta-feira, 17 de março de 2016

quarta-feira, 16 de março de 2016

Poesia de primeira, à Segun... (cof, cof) Quarta-Feira (#11/2016)

Poema em linha recta


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possiblidade do soco;
Eu que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu que verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão princípe - todos eles princípes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana,
Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! 

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó princípes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Álvaro de Campos

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#11/2016)

Mat3r Dolorosa - Think About Your Future Now - 2013





Mat3r Dolorosa, entenda-se Tristan Spella, lançou em Janeiro, de 2013, "Think About Your Future Now". Amante de Massive Attack, Björk, Radiohead ou DJ Krush, (o que já perspectiva algo de muito bom) Spella afirma que este trabalho foi um longo processo criativo de introspecção e experimentação de várias estruturas rítmicas de forma a que este trabalho pudesse invadir o espaço e deixar a sua marca. Creio que assim o fez. Fiquem com "The Way Of Samourai".


Conto do Beijo Negro com Três Grandes Conselhos de Aires 4/10 (Obra de Paulo Seara)

Lê, ou relê, as partes anteriores; 1; 2; 3;


Conto do Beijo Negro com Três Grandes Conselhos de Aires



4


Um dia o Aires sentiu-se muito apertado ao balcão e deixou de mexer as bebidas com o sarramalho. Ao entrar na casa de banho encontrou um casal de namorados a discutir por causa de um Beijo Negro, e perguntou se estavam ali para discutir ou usar os sanitários. Curioso, foi para casa e fez uma pesquisa sobre o tema. Naquela noite estava tão excitado que telefonou à namorada dizendo-lhe para passar lá por casa porque tinha uma surpresa para lhe fazer. Ela não aceitou, e disse horrorizada que não punha os pés na casa dele enquanto não concertasse a tomada eléctrica onde se tinha queimado. O Aires, o coitado do Aires, dormiu sozinho e nu naquela noite. Nu como sempre fazia.

SCREEN SHOT por A.A.M. (#11/2016)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Filme: The Homesman [Uma Dívida de Honra] (2014)
Realização: Tommy Lee Jones


Mary Bee Cuddy (Hillary Swank) é uma mulher de meia idade e espírito independente que recebe propostas de casamento após comprar uma quinta no Nebrasca. Desiludida com as propostas e oposta à “obrigação” de casar, decide manter-se solteira e ajudar outras mulheres. Para isso recruta George Briggs (Tommy Lee Jones) para ajudar a transportar mulheres numa travessia difícil, garantindo que nada de pior lhes acontecesse. Um western a sair dos moldes habituais onde reina a plenitude da paisagem e a monotonia da jornada apenas interrompida pela expetativa de algo acontecer. Selecionado para o festival de Cannes em 2014, foi vastamente aclamado pelos críticos. Em termos de curiosidade, o título do filme teve origem no livro em que se baseia, em que Home (Casa) e Man (Homem) formam a expressão Homesman, aquele que devolvia as pessoas à sua origem, aquele que as levava de regresso a casa.


Estamos de volta!

Pois é pessoal, parece que 2016 está a ser difícil quanto à práctica e manutenção de horários e rotinas semanais por parte da Pomar de Letras. Para que não digamos que a culpa é do editor, vamos assumir que a Pomar de Letras esteve de cama, com uma gripe e febre ligeira, e que não pôde publicar-se, porque estava de baixa médica. Mas, ainda que meio ranhosa, a "zine" está de volta, com as publicações em atraso e a esperança de não se atrasar mais, pelo menos esta semana.


Um grande abraço,
boas rubricas, boas leituras.


E já agora, um bom resto de semana. ;)

terça-feira, 8 de março de 2016

Ditados Impopulares (#05/2016)



"Um provérbio a fazer lembrar que por mais tesos se juntem não se faz grande vaquinha"


Segue os Ditados Impopulares no facebook. ;)

segunda-feira, 7 de março de 2016

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#10/2016)

Pernoitas em mim


pernoitas em mim
e se por acaso te toco a memória... amas
ou finges morrer

pressinto o aroma luminoso dos fogos
escuto o rumor da terra molhada
a fala queimada das estrelas

é noite ainda
o corpo ausente instala-se vagarosamente
envelheço com a nómada solidão das aves

já não possuo a brancura oculta das palavras
e nenhum lume irrompe para beberes


Al Berto

domingo, 6 de março de 2016

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#10/2016)

Still Corners - Strange Pleasures - 2013





Os Still Corners são um projecto musical Londrino do produtor Greg Hughes e da vocalista Tessa Murray. Com um Indie Pop de grande qualidade, como a Inglaterra o sabe fazer, Still Corners lançaram em Maio de 2013 "Strange Pleasures". De acordo com a "Pitchfork" este álbum está dentro dos parâmetros que a banda gerou no primeiro álbum, algo que valeu um prémio à banda atribuído pela mesma "Pitchfork". Sem dar por isso vejo-me a fazer o "replay" das músicas, dada a qualidade. Fiquem com "The Trip".


Conto do Beijo Negro com Três Grandes Conselhos de Aires 3/10 (Obra de Paulo Seara)

Lê aqui a primeira parte, e aqui a segunda, se não leste ainda, ou quiseres reler.


Conto do Beijo Negro com Três Grandes Conselhos de Aires



3


Um cliente do café do Aires escorregou no chão molhado da casa de banho e bateu com a cabeça numa tomada eléctrica. O Aires foi ver o ferido, e fez um curativo com mijo, que vazou forçadamente da bexiga, algodão e uma compressa. Depois, para animar o cliente entontecido deu-lhe uma bebida que evidentemente mexeu com a pila. O gajo que se estatelou tinha tido um mau dia; já de manhã houvera um fogo na cozinha do apartamento e os bombeiros entraram na casa dele, surpreendendo-o nu a dormir no quarto.

SCREEN SHOT por A.A.M. (#10/2016)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Série: Vinyl (2015)
Criadores: Martin Scorsese, Mick Jagger, Terence Winter e Rich Cohen


Richie Finestra, interpretado por Bobby Cannavale, é o diretor executivo de uma editora discográfica, a American Century, e tenta a todo custo relançar a sua marca. Repleta de emoção retrata Nova Iorque no frenesim dos anos 70 no ambiente musical que inspirou todo o mundo. Nomes como Max Casella, James Jagger, J.C. MacKenzie, Olivia Wilde e Ray Romano inundam de festividade e suspense todo o cenário. O episódio piloto foi realizado pelo próprio Martin Scorsese e a aceitação foi tal que decidiu continuar a participar na realização de mais episódios para a segunda temporada. O tema não é novo, já na série Empire, a mesma abordagem foi feita, mas o estilo próprio que marcou uma época não deixará ninguém indiferente e o espetador é cativado desde os primeiros segundos. Com boa música à mistura.


sexta-feira, 4 de março de 2016

Animagem (#05/2016)

"O masoquista projecta uma entidade exterior para atingir um nível repulsivo de auto-abuso."


Freud


É com base nesta citação de Sigmund Freud, que Patrick Smith ilustra Puppet (*Fantoche), uma história onde as marionetas ganham vida, ou a vida se anima nas marionetas?


terça-feira, 1 de março de 2016

Poesia de primeira, (atrasou-se e chegou) à Terça-Feira (#09/2016)

Alegoria do mundo na passagem de Arnaldo de Villanova


Outro tigre leão e prata e crina
te esperam sob o vaso menstrual
Separarás primeiro a água e a mina
porque a Água não é um mineral

No coágulo te espera areia fina
e sob a areia planta sideral
que ao manto do Rei Verde se combina
porque a Planta não é um vegetal

Ao homem cabe o Ouro de buscá-lo
E a sua cria morta ou imortal
tirá-la-ás do ventre de cavalo
porque o Homem não é um animal

E se o espelho de cobre te fascina
se te aparece o Monstro do Umbral
que à ignea terra o astro abismo ensina
e nas trevas afunda o Bem e o Mal

Reduz expurga fende e ilumina
e com espada de fogo talha e inclina
porque o Fogo não é o seu sinal


Mário Cesariny