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«Um aluno que ocasionalmente depare com o nome poderá perguntar-se quem era William Stoner, mas poucas vezes tentará saciar a curiosidade, indo além da pergunta casual. Os colegas de Stoner, que não lhe tinham uma estima por aí além quando era vivo, raramente falam dele agora; para os mais velhos, o nome é um lembrete do fim que os espera a todos e, para os mais jovens, é um mero som que não evoca qualquer noção do passado nem qualquer sentimento de identificação quer em termos pessoais, quer em termos de carreira.»
John Edward Williams, Stoner, Publicações D. Quixote, p. 7
Não conhecia Stoner, até ao dia – há pouco mais de um mês – em que, passando por um blogue que costumo visitar, deparei com a imagem da capa, uma passagem do livro e um breve comentário da anfitriã. A minha curiosidade levou-me, de imediato, à página de uma editora que disponibiliza de quinze a vinte páginas de algumas obras, para leitura prévia. Li essas páginas e, poucos dias depois, tinha o livro comigo e a companhia algo soturna, mas longe de ser sinistra, de William Stoner, o protagonista.
Apesar de sido publicado, nos Estados Unidos, em 1965, Stoner acabou por cair no esquecimento e só recentemente ganhou popularidade, depois de ter sido traduzido para o francês por Anna Gavalda e publicado, inicialmente, em França e, de seguida, noutros países da Europa. Depressa ganhou a simpatia dos leitores e os elogios de escritores europeus de renome, como Ian McEwan ou Julian Barnes.
Stoner conta a história de William Stoner, nascido no seio de uma família humilde de agricultores, que não ambicionavam para o filho mais do que os estudos obrigatórios e um futuro na quinta. Contudo, o destino de Stoner ganha outro rumo, quando, terminada a escola obrigatória, um conselheiro rural sugere ao pai que o filho deveria candidatar-se à Escola Agrária da Universidade de Columbia. William acaba por ingressar na escola, instalando-se na quinta de uns familiares, que o acolhem com a condição de ele trabalhar para eles. Apesar de o trabalho árduo lhe deixar pouco tempo livre, Stoner conclui o primeiro ano do curso. O seu fascínio crescente pela cadeira de literatura leva-o, no início do segundo ano, a substituir a Agricultura por Literatura, sem dar a conhecer aos pais a sua decisão. Terminado o curso, Archer Sloane, o professor de Literatura, propõe-lhe um lugar de assistente na universidade.
Embora seja um professor dedicado, um desentendimento com um superior impedi-lo-á, durante décadas, de progredir na carreira e de sair da obscuridade. Acerca de Stoner vão surgindo, ao longo desses anos, mitos que dão dele uma certa imagem de excentricidade.
A vida pessoal de William não é menos cinzenta. Casa, ainda muito jovem, com uma mulher que não o ama e que, ao longo de muitos anos de convivência, o hostiliza e afasta da única filha. Quando o protagonista se apaixona e vive durante algum tempo um romance com uma aluna, temos esperança de que a sua vida possa mudar e que ele consiga, finalmente, pôr fim a um casamento que não o faz feliz. Mas tal não acontece, acabando por deixar partir a única mulher que ama verdadeiramente.
Stoner, que nasceu no fim do século XIX, vive os contratempos de duas guerras mundiais, não chegando a superar a morte de um amigo que perde na primeira.
Ficamos, desde o início da narrativa, com a imagem de uma personagem apagada, incapaz de impor a sua vontade, que leva uma vida profundamente infeliz. Há, inclusive, momentos em que nos dá vontade de abanar Stoner, de tomar decisões por ele. Contudo, se quisermos ser justos, vislumbramos nele resiliência, princípios inabaláveis, que o impedem de ir pelos caminhos que os outros querem, a todo o custo, traçar para ele, qualidades que fazem dele um ser único. O autor afirma, numa entrevista, que não vê Stoner como ser infeliz, antes como alguém realizado, porque fez sempre aquilo que quis e de que gostava.
A escrita de John Williams é limpa, serena, sem grandes artifícios de retórica, mas literariamente eficaz, quer pela clareza do discurso, quer pela técnica narrativa, que leva o leitor a querer sempre ler mais uma página.
A autora, Luísa Félix, pode ser seguida no seu blogue, Letras são papéis.
Depois de dez anos sem Bowie lançar qualquer trabalho novo e desde 2006 sem dar concertos e eis "The Next Day". A crítica aplaudiu o dia seguinte dizendo que era um álbum belo, arrojado, provocativo e inteligente, o "The Independent" afirmou mesmo ser o maior regresso de sempre na história do "Rock". Convenhamos, Bowie sempre foi um visionário e inovador nos seus trabalhos, tornando-se nele próprio a evolução. Fiquem com "The Stars (Are Out Tonight)" e comprovem o génio de David Bowie.
O aniversário da Marlene é um conto, da autoria de Rogério Paulo E. Martins, do qual será partilhado um parágrafo semanalmente (independentemente do seu comprimento). Sempre aos Sábados, pelas 21:30, não percas, um exclusivo da Pomar de Letras.
Esqueci-me de referir que eu não queria ir ao hospital, para mim era uma mera entorse que em nada urgia um hospital onde, certamente, me curariam e eu poderia ir à escola no dia seguinte – o que me lembra que não poderia ser Sexta-Feira e era, isso sim, Quinta-Feira, dia vinte de Fevereiro. A dor era enorme, mas se me impedisse de ir à escola, era suportável – … – e tratá-la estava portanto fora de assunto. Não fui à escola de qualquer modo. A gravidade da fractura levava-me a necessitar de ficar em casa imóvel para deixar secar o gesso e tinha de manter a perna levantada, pelo que só Terça-feira regressaria à escola. Dito isto, concluo agora que me enganei no ano. Não girava o ano de mil novecentos e noventa e sete, mas sim o seu predecessor. Mil novecentos e noventa e seis. Valeu-me imensas radiografias esta fractura – não direi estaladela, pois não me parece correcto – e é claro o fim-de-semana prolongado. Afinal foi bom ir ao hospital. O que me lembra que, anos mais tarde, andei com o polegar da mão direita também estalado, mas só fui ao hospital quando já a sanação da fractura ia em longo curso, pelo que de nada me valeram lá e saí “apenas” com uma receita para um spray que ia disfarçando as dores, que de resto não eram muitas, ou não teria aguentado três semanas até ir ao hospital.
A Viagem à Lua é um dos primeiros filmes de Ficção Científica e uma sequência animada no final atribui-lhe igualmente o título de uma das primeiras metragens animadas. Inspirado nos romances Da Terra à Lua, de Júlio Verne, e Os Primeiros Homens na Lua, de H. G. Wells. Como o título indica, conta a história de um grupo de astrónomos que viajam à lua numa cápsula expelida por um canhão. Originalmente gravado a preto e branco, Georges Méliès criou uma segunda versão, colorida manualmente, que acabou perdida e apenas foi recuperada em 2002 num celeiro em França. Esta versão é a mais completa existente do filme e algumas sequências, apesar de danificadas pelos anos e os elementos, foram recuperadas e coloridas a partir da versão a preto e branco. O realizador, que esperava lucrar com a exibição do filme nos E.U.A. acabou por falir alguns anos depois, quando viu a sua intenção gorada, pois Thomas Edison que obtivera algumas cópias do filme adiantou-se às intenções de Georges Méliès e ganhou por sua vez a fortuna que este almejava.
Sendo o filme mais antigo constando no livro "1001 filmes para ver antes de morrer", de Steven Jay Schneider, o filme encontra-se já em domínio público. Deixamos aqui os endereços para a versão a preto e branco. disponível no sítio archive.org e a versão colorida, com uma nova banda sonora composta pelos franceses Air.
Quem dá tudo o que tem, A mais, não é obrigado. Nunca se pede a ninguém Se não for de seu agrado. Mas se um dia por Alguém For por inteiro chamado, Às avessas do convém, Virá dar tudo que tem, A mais, não é obrigado.
Mas quem só espartilhado Porventura não convém A quem tudo é revelado, Não só inteiro então vem, Como espera que o outro lado Seja realmente Alguém Inteiramente dotado A dar o tudo que tem, A mais, não é obrigado.
Tricky voltou ao seu estilo com este "False Idols". Sobre os trabalhos anteriores, entenda-se "Mixed Race" e "Knowle West Boy", disse que a sua visão estava toldada e que, actualmente, apesar de aprovar as suas composições nesses álbuns, afirma que não é o melhor que consegue fazer, assim, está de volta à fórmula que lhe deu o sucesso em 1995, faz o que quer sem olhar a opiniões, ou seja, a pinta do extraordinário "Maxinquaye" está de volta, o bom "Trip-hop" dos primórdios está de volta, que seja muito Bem-Vindo. Neste "False Idols" contou com as colaborações de Peter Silberman (The Antlers), Fifi Rong, Nneka e Francesca Belmonte.
Fiquem com "Nothing´s Changed" com a voz de Francesca Belmonte, que demonstra os bons tempos de Tricky. Tem ainda excertos da lindíssima "Makes Me Wanna Die".
O aniversário da Marlene é um conto, da autoria de Rogério Paulo E. Martins, do qual será partilhado um parágrafo semanalmente (independentemente do seu comprimento). Sempre aos Sábados, pelas 21:30, não percas, um exclusivo da Pomar de Letras.
Só quando a minha mãe chegou, sabendo de antemão que me magoara, foi procurarme e me encontrou no quarto, ainda gemendo a, em nada adormecida, dor que, me inchava o pé em triplos tamanhos e me abstraia de quaisquer outros pensamentos e razões que não a sua. Claro está que acabei nas urgências do hospital de Macedo de Cavaleiros, esperando para ser atendido. Não vou entrar em pormenores, apenas digo que cheguei e logo fui encaminhado para a sala de raio-X. Após cerca de duas horas esperando o ortopedista regressar do seu jantar, fui novamente chamado pelo enfermeiro Júlio, para ser reencaminhado para o raio-X. A radiografia anterior parecia estar defeituosa. Gracejei acerca dos meus ossos de mutante – ai a meninice… – algo que não provocou a reacção esperada na minha mãe e lá fui, ser tratado.
Para o bem e para o mal, poucos serão os realizadores que conseguem obter total confiança financeira para produzirem os seus filmes sem quaisquer limitações, assim, tal e qual como os tinham projetado. Christopher Nolan é um deles. Realizador e co-autor de um argumento que nos traz uma profundidade emotiva que só ele nos consegue fazer sentir. Juntamente com o melhor que se faz em tecnologia de efeitos especiais transmite-nos um cenário extraterrestre cientificamente fundamentado com planos incríveis filmados na Islândia e Canadá entre outros locais. A complexidade do som imerge-nos completamente no desenrolar da ação sentindo cada pormenor, cada movimento, cada emoção. Nas interpretações, Matthew McConaughey e Anne Hathaway destacam-se com performances marcáveis.
Interstellar representa um futuro não muito distante, difícil para o Homem, em que a capacidade de sustentabilidade se vai esgotando e as condições de habitabilidade se deterioraram. A exploração espacial, que tinha sido interrompida para dirigir os fundos para agricultura que é sustento de toda a Humanidade, é agora vista como a única solução para garantir a continuidade da espécie, independentemente dos custos financeiros e humanos que essa opção trará. Não hoje, nem amanhã, mas um dia este dilema poderá ser nosso.
Tive o prazer de ver Low ao vivo, em 2012, em Santa Maria da Feira, que banda meus amigos. Prestes a fazer 20 anos de existência, lançaram o álbum seguinte ao aclamado "C´mon" de 2011. "The Invisible Way" é o nome, Alan e Mimi não desapontaram, descreveram o álbum como intimista e os temas variam entre vários tipos de guerra, arqueologia e amor. Podemos contar com a voz de Mimi Parker em cinco das onze músicas que compõem o álbum.
O aniversário da Marlene é um conto, da autoria de Rogério Paulo E. Martins, do qual será partilhado um parágrafo semanalmente (independentemente do seu comprimento). Sempre aos Sábados, pelas 21:30, não percas, um exclusivo da Pomar de Letras.
À hora de voltar a casa, já a minha injúria tinha atingido outro grau de dor. Como se costuma dizer, o pé tinha arrefecido. E a facilidade com que chegara ao Lua Doce, esteve longe do calvário que foi chegar a casa. Agora ajudado – apoiado – ora pela Dânia, a irmã da Marlene, ora pela Catarina, filha dos donos do supermercado, ora pela Nádia, a minha irmã. Por vezes por duas delas e pontualmente saltitando. Qualquer estremecimento no pé, ou na perna, me provocava uma dor calcinante e aguda que me derreava e fugia as forças. Foi longa, morosa e arrebatadora, quer a viagem, quer a dor, que me levaram a casa. Quando cheguei, todas as forças foram poucas para conseguir dirigir-me ao quarto em braços pelas minhas estafadas “enfermeiras”. A Fifi, a minha cadela, rejubilante de nos ver correu na nossa direcção saltitando, carente de festas e mimos. Foi nesta euforia que, já à porta do quarto, a Fifi acabou caindo sobre o meu pé – esquerdo. A dor foi tal que me soltou um urro tremendo de dor e um palavrão feio para a cadela. Deitaram-me e ajudaram-me a descalçar, novamente, uma dor agonizante me abateu e deixaram-me no quarto, gemendo de dor, procurando adormecê-la e proibindo-as de contar o que fosse aos meus pais.
Quando vemos o selo da Walt Disney Pictures num filme sabe-se de antemão que estamos a ser presenteados com minutos de pura qualidade em animação. Minutos esses que correspondem a infindáveis horas de desenvolvimento de técnicas, desenho, composição de imagem e sua criação em movimento. Ainda assim, e após o seu quinquagésimo quarto filme de longa duração, ainda nos conseguem surpreender. Big Hero 6 é de facto uma bela estória que mais uma vez nos demonstra que o cinema de animação vai muito além da sua premissa de entretenimento, estando subjacentes valores que muitas vezes não se conseguem veicular noutro género de filmes de forma tão acessível. Hiro Hamada, é um jovem desorientado que encontra na robótica um estimulo para se retirar daquilo que é a sua ocupação, participar em lutas ilegais de robôs. É-lhe mostrado que o seu talento pode ser usado numa vertente mais criativa no desenvolvimento de novas tecnologias, cooperando com outros para que todas as pessoas possam beneficiar. Mas aí algo acontece que muda tudo. No entanto, a sua interação com os robôs vai ajuda-lo a superar todos os obstáculos, acabando ele próprio por se descobrir através da amizade incondicional do seu novo amigo. A representação da interajuda, num futuro não muito distante.
Não necessita de apresentações. Game of Thrones é sem dúvida das melhores séries televisivas já feitas. Traz o melhor de todos os géneros: drama, ação, aventura, fantasia … tudo isto reunido no que que será um dos melhores argumentos adaptados, não fosse baseada nos livros de George R. R. Martin. E o que torna esta série numa peça incrível, não são só as suas qualidades técnicas de realização, guarda-roupa, som e imagem amplamente aclamados, é a sua repercussão no público. Se inicialmente era de culto e quase ninguém conhecia até ao final da primeira época, o passa palavra funcionou da melhor forma. Isso e o tempo que distancia entre o episódio final e a estreia seguinte dá tempo para alcançar o espectador de uma forma massivamente global. As pessoas veem e tomam partido pela família com que se identificam ou gostam, falam e criticam empenhando o seu mote. Comparam o livro com o argumento do filme e os mais fiéis súbditos são capazes de saber melhor a história e origem de Game of Thrones com os seus reis e dinastias do que a história do próprio país. Com estreia marcada na sua quinta temporada para dia 12 de Abril, dá tempo suficiente para nestes dias fazer uma maratona revendo os episódios anteriores, para cimentar ideias concebidas e perceber que personagem é aquele primo afastado e o que anda ali a fazer. Aguardamos ansiosamente. “Winter is Comming.”
O nome é Beatrice Eli. Oriunda da Suécia apresentou-nos, em 2013, o seu EP de estreia explorando o estilo "Synth". Eli descreveu o EP como negro e afectuoso ao mesmo tempo, pretendendo deixar a sua marca e as letras referem isso mesmo nas relações humanas. Embora os temas possam ser pesados, não o sentimos no trabalho desenvolvido que conta com uma produção plena de "Twists and turns". Fiquem com o single "It´s Over", que traz as características vocais fortes de Eli sobre os riffs de guitarra e batidas relaxadas.
O aniversário da Marlene é um conto, da autoria de Rogério Paulo E. Martins, do qual será partilhado um parágrafo semanalmente (independentemente do seu comprimento). Sempre aos Sábados, pelas 21:30, não percas, um exclusivo da Pomar de Letras.
A minha irmã ajudou-me a levantar e coxeei até casa. Melhor será dizer que saltitei até casa, onde esperei até à hora marcada para ir à festa de aniversário. Não seria uma mera dor no pé, alguma entorse sem gravidade, que haveria de estragar-me o dia. E assim, à hora marcada lá fui, saltitando ao pé-coxinho até ao Lua Doce. Ajudado, pontualmente, ora pela minha irmã, ora por alguma das amigas que nos acompanhavam. Não sei precisar distâncias, mas era bastante longe, principalmente, para quem tinha um pé partido – tornozelo estalado. Mas lá chegámos e divertimo-nos na festa. Como dita a regra que as crianças andem sempre aos tombos e todas arranhadas, nem a minha mãe, nem alguma das outras presentes, estranhou que estivesse sempre sentado, sorrindo, e apenas acusado pelos outros infantes de me haver magoado no pé, mas se ali houvera chegado, nada sério haveria de ser. E assim, retornaram aos empregos, cantados os parabéns e nós, mais tarde, a casa rumámos. E pois que isso sim foi complicado.