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segunda-feira, 30 de março de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#13/2015)

Dedicado a Adolfo Luxúria Canibal.


Tens tudo a perder, nada a ganhar. Tens tudo para ganhar,
nada para perder. Tens de viver e morrer, destroçado, abandonado.
Entregue a ti, ao destino, ou extraviado pelo caminho. Tens de perder e
encontrar, a ti e a outros, ser encontrado e violado. Aprender e ensinar.
Deves ganhar e odiar, assim saibas amar, prezar a entropia, e dela
nascer em harmonia, melodia e palavras.

Deixa-me a minha solidão, a minha morte, possa eu
devolver equilíbrio à minha alma e arrastar o teu cadáver, para junto das carcaças nefastas
de poetas e sonhos. Deves mutilar-te e alimentar os que sofrem,
sofrer até morrer
e manter o silêncio da multidão atónita pela sede de sangue
e afónica pela histeria da morte. Tens de jurar segredo
à nossa existência e calar as bocas que choram com fome de guerra.
Liga a televisão e em directo
controla as mentes remotas dos contribuintes. Depois morre depressa e salva-me
da loucura.

Sinto que só a esquizofrenia, não pode mais aguentar-nos a sobriedade,
nas sórdidas ilusões desta realidade podre.


Rogério Paulo E. Martins

domingo, 29 de março de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#13/2015)



Os Suede voltaram à criação em 2013. A banda que nos trouxe "The Next Life", Pantomime Horse", ou "Sleeping Pills" descreveu "Bloodsports" como um cruzamento entre o "Dog Man Star" e "Coming Up", os temas variam entre a luxúria, a procura e, como Brett Anderson disse, o "prazer carnal do jogo do amor". Ainda sobre ""Bloodsports", afirmou que foi o trabalho mais difícil que fez, mas de longe o mais satisfatório. A primeira música que a banda disponibilizou deste álbum foi esta "Barriers" que aqui partilho, apesar de não ter sido o primeiro single.


sábado, 28 de março de 2015

O Aniversário da Marlene por Rogério Paulo E. Martins (#06/2015)

O aniversário da Marlene é um conto, da autoria de Rogério Paulo E. Martins, do qual será partilhado um parágrafo semanalmente (independentemente do seu comprimento). Sempre aos Sábados, pelas 21:30, não percas, um exclusivo da Pomar de Letras.


Lê os primeiros parágrafos.


Não sei como caí. Sei que foi sem dor e violentamente, olhei para o lado e vi que elas me olhavam, mas fora a violência do impacto que lhes atraíra o olhar, não o salto ou o voo esplendoroso, como fora meu desejo. Vendo-me no chão, viraram a cara e seguiram. Foi, deveras, o melhor que poderiam ter-me feito, quando me levantei senti uma dor tão violenta no pé que logo caí por terra, quase desfalecendo. Lembrei-me do João Viera Pinto que, poucos dias antes ao serviço do Benfica, tivera uma lesão num joelho, fruto também duma queda aparatosa, em circunstâncias, totalmente, opostas. Porém, também este se levantara antes de constatar a seriedade da lesão e só a força exercida sobre a perna, após se levantar o prostrou por terra, como a mim. A inocência da meninice é algo extremamente maravilhoso, no auge daquela dor que me derrubara, e apesar de afectado por o que foi, muito provavelmente, o meu primeiro desalento “amoroso”, sentia-me enorme, pois eu era igual ao João Pinto.

sexta-feira, 27 de março de 2015

O Jardim dos Enganos

Amanhã, Sábado 28, a livraria Traga-Mundos, em Vila Real, apresenta o livro de estreia do macedense João Pedro Baptista, O Jardim dos Enganos. "O livro irá ser apresentado pela Prof.ª Dr.ª Elisa Maria Gomes Da Torre, Professora Auxiliar no Departamento de Letras, Artes e Comunicação da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro."


“Chamo-me João Pedro Baptista, tenho 22 anos, sou natural de Vale de Prados, freguesia que pertence ao concelho de Macedo de Cavaleiros no Nordeste Transmontano. Concluí a escola básica e secundária em Macedo e frequento, atualmente, o 3º ano da Licenciatura Línguas Literaturas e Culturas na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. O gosto pela poesia nasceu desde cedo, tinha apenas 16 anos quando comecei a escrever poesia. É claro que a licenciatura que frequento proporcionou em mim novas motivações e conhecimentos que enriqueceram a minha forma de pensar e de escrever. Esta obra nasce do concurso organizado pela editora Poesia Fã Clube, no qual participei com poemas que, há muito, tinha organizado e acabaram por ser selecionados para a publicação sem envolver qualquer custo da minha parte.

Por último, deixo um agradecimento especial à Livraria Traga-Mundos, uma livraria de referência na região transmontana e que no decorrer da minha vida, quer pessoal quer profissional, tem sido exemplar em prestar todo o tipo de apoio.” João Baptista


O primeiro beijo é sempre o primeiro, 
O primeiro contacto, o mais companheiro 
Que permanecerá para sempre no coração 
Por inteiro, 
Repleto de amizade, carinho e paixão. 
O primeiro suspiro da alma, 
O primeiro gesto hesitante sem querer hesitar, 
A primeira troca que hesitando acalma, 
O beijo é múltiplas coisas e uma só coisa, 
O beijo é o primeiro do dicionário de amar, 
O beijo é… enfim, 
Todo o inicio sem fim,

SCREEN SHOT por A.A.M. (#13/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Clássico: THX1138 (1971)
Realização: GeorgeLucas


O primeiro filme escrito e realizado por GeorgeLucas foi também o mais incompreendido e menos aceite na altura em que foi lançado, início do ano de 1971. Veio a torna-se posteriormente um filme de culto no circuito alternativo dado o sucesso que adveio com os seus filmes posteriores. No entanto, é em THX1138 que reside a grande genialidade deste realizador. Baseado numa curta-metragem que anos antes tinha feito, criou um dos filmes mais impactantes que veio influenciar as gerações seguintes e inspirar outros realizadores que se basearam na essência deste filme. Num papel representativo extraordinário, o jovem Robert Duvall é THX 1138, número de série pelo qual as pessoas são identificadas. Trabalha num sistema corporativo fabril unicamente destinado à produção em massa. Todas as pessoas são medicadas por forma a não expressarem as suas emoções e não terem capacidade afetiva com outras pessoas. Vivem em quartos com parceiros atribuídos aleatoriamente. Algo muda quando LUH 3417, a sua parceira, deixa de tomar a medicação e substitui a dele começando a despoletar o renascer das emoções. Esteticamente impar naquilo que se refere ao planeamento de imagem, construção de cenário e desenvolvimento de conceito. Um filme que não deixa ninguém indiferente. Uma obra prima.


quarta-feira, 25 de março de 2015

Livros que nos devoram por Luísa Félix (#03/2015)

Poesia espanhola, anos 90


Quando nos pedem para falar sobre livros, ocorre-nos, de imediato, um qualquer título de ficção em prosa, por norma um romance, uma colectânea de contos ou uma novela. Talvez pelo facto de sermos todos, sem excepção, narradores de pequenas ou grandes histórias, protagonizadas por nós ou por outros, ainda que muitos sejamos leitores de outros géneros, como o ensaio ou a poesia. Fugindo um pouco à regra, hoje apraz-me discorrer, ainda que brevemente e numa atitude de leigo, sobre uma antologia poética de autores do país vizinho, de que tive conhecimento e adquiri recentemente e de que tenho vindo a desfrutar aos poucos, como aos poucos devem ser degustados os alimentos cujos sabores nos são menos familiares, mas que nos agradam.

Poesia Espanhola, anos 90 é uma edição bilingue, em castelhano e português, organizada e traduzida por Joaquim Manuel Magalhães, publicada em 2000, pela editora Relógio d’ Água. Presidiram à selecção dos autores e dos textos critérios como as preferências do próprio compilador e o facto de todos os poetas terem começado a publicar em livro nos anos noventa.

Integram esta antologia, que se articula com o volume II de Poesia espanhola de agora (Relógio d’ Água, 1997), trinta autores, nascidos entre 1964 e 1975. É, aliás, por ordem de nascimento que os poetas nos são dados a conhecer, tendo Joaquim Magalhães a preocupação de fazer preceder a cada conjunto de textos uma breve nota biográfica do autor.

Os versos insertos nesta compilação nascem da observação de aparentes minudências quotidianas, de rostos ou de gestos alheios, nascem do medo, do amor, da ausência, da dor, da solidão; outros de actos de introspecção ou da relação do “eu” lírico com os outros, com os objetos, com as suas dúvidas ou com o seu corpo. Há-os que parecem ser a expressão de uma espécie de primitivismo alojado no subconsciente individual ou colectivo e que emerge por uma certa permissividade inerente à linguagem e ao universo poéticos. 

A linguagem e o labor poéticos ampliam os pormenores, filtram a realidade, cauterizam feridas, organizam o caos que atormenta o “eu”, iluminam o aparente prosaísmo das situações, surpreendendo-nos, chocando-nos, exorcizando, ao mesmo tempo, os nossos fantasmas, dando voz ao que não sabemos nomear.

Melhor do que escrever sobre os poetas e os seus poemas, é lê-los. 


Julgamos que a vida nos escapa e na realidade a vida é isso


Às vezes fico com a vista parada
─ por exemplo numa parede ─
durante um bom bocado. os olhos
deixam de ver por fora e o corpo
parece que não o sinto. Então
normalmente dou-me conta
(e não mo explico e espanto-me)
desta coisa estranha que é viver,
e faço-me perguntas que cortam
e o que sou concentra-se num ponto
e a única coisa que sinto é que eu
─ a voz que vive em mim e que me diz
isto e aquilo sem palavras ─
também serei menos um. Em breve.
Que tudo o que penso agora,
o que pensei e chegarei a pensar
há muito que não é nada.

[Juan Miguel López (Madrid, 1973)]


Os dias traidores


São esses que nos passam pelas mãos
com gestos quotidianos,
onde nunca acontece
nada mais senão a vida
com minúscula, quero dizer.
Os do chá com limão enquanto lá fora chove
e se fuma no café para passar a tarde,
os do regresso a casa pelas ruas do costume.
São os dias das coisas pequenas
que secretamente pactuam connosco
o peso dos anos.
Os dias traidores:
silenciosos, amáveis
são o futuro que pouco a pouco aproximam
o oculto abraço da morte
com a mesma doçura
com que os braços do amigo acolhem o meu cansaço.

[Silvia Ugidos (Oviedo, 1972)]


A autora, Luísa Félix, pode ser seguida no seu blogue, Letras são papéis.

terça-feira, 24 de março de 2015

Ditados Impopulares (#06/2015)



"Um provérbio sobre a propagação dos sentimentos de um ponto de vista não economicista."

Segue os Ditados Impopulares no facebook. ;)

segunda-feira, 23 de março de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#12/2015)

O vermelho por dentro


Estão envolvidos em corpos negros vermelhos por
dentro. Estão num barco sobre o mar e o mar é
negro. É de noite. O céu está negro e sobre a
água negra tudo é vermelho por dentro.

Os corpos eram negros
sobre o mar a água era de noite
não se via o vermelho por dentro
os corpos não se viam
eram barcos com os ventres todos negros
e as línguas eram de águas muito rentes
A sangue não sabia
não se via o vermelho por dentro
o céu a água envolvia
tudo envolvia nos vermelhos dentros
e os mares todas as noites estavam negros
negros por dentro
E a água volvia pelo céu tão negra
e à noite por dentro do mar todo vermelho
a noite era vermelha
e os barcos negros por dentro
E nos corpos a água negra era vermelha por dentro
e eles estavam envolvidos
e


Ana Hatherly

domingo, 22 de março de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#12/2015)



Plastic Flowers é uma banda Grega de "Electrónica" que caminha entre as batidas, vagueia nas guitarras e na voz para nos conduzirem entre paisagens, com a finalidade de, como eles próprios o dizem "Disappear in the haze". Comparados a Boards Of Canada, Plastic Flowers devolvem-nos a tranquilidade com os seus ambientes.
Fiquem com "Dead Promises" deste "Aftermath".


sábado, 21 de março de 2015

O Aniversário da Marlene por Rogério Paulo E. Martins (#05/2015)

O aniversário da Marlene é um conto, da autoria de Rogério Paulo E. Martins, do qual será partilhado um parágrafo semanalmente (independentemente do seu comprimento). Sempre aos Sábados, pelas 21:30, não percas, um exclusivo da Pomar de Letras.


Lê os primeiros parágrafos.
I aqui.
II aqui.
III aqui.
IV aqui.



Olhei a estrada, à esquerda e à direita, não havia carros, tudo perfeito para poder correr e ganhar o balanço necessário para erguer o corpo sobre o malfadado portão, tudo, menos as duas raparigas que então passavam. Não sei porquê, mas tive a feliz ideia de esperar que estas passassem o meu prédio, antes de lançar-me no salto que havia de partir-me o tornozelo. Na verdade não parti, ficou estalado e não digo só, pois me disseram que era pior estalar um osso do que, verdadeiramente, parti-lo, assim, e sem qualquer rigor científico, declaro que foi um trambolhão fodido. Na ânsia de impressioná-las, com a minha excelsa habilidade e capacidades físicas, turvo do pensamento pela testosterona e cego pelo orgulho, calculei mal o salto, errei o movimento, tudo foi mal executado e só em pleno ar, completamente, extasiado pela adrenalina, me apercebi de que haveria de falhar aquele salto. Incrivelmente, tinha duas opções, uma era tentar corrigir o salto e arriscar estatelar-me, violentamente, contra o portão – vinha de corrida desde o outro lado da estrada – ou, meramente, largar-me e, num impulso, tentar corrigir o salto, em voo esplendoroso, tentado aterrar o mais escorreito possível. Escolhi, é claro, a única opção que me permitiria manter dignidade, certamente, aquele vulto voador cumpriria o seu propósito e elas haveriam de, atónitas, ver as capacidades daquele puto acrobata; se o navio afundava, eu haveria de afundar com ele, nunca antes.

sexta-feira, 20 de março de 2015

SCREEN SHOT por A.A.M. (#12/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Filme: Tim's Vermeer
Realização: Teller


Para descrever este documentário temos antes de apresentar dois dos mais marcantes intervenientes: Johannes Vermeer e Tim Jenison. O primeiro, certamente, conhecido por muitos, aclamado pintor do século XVII que especializou a sua técnica na representação de cenários bucólicos do quotidiano, em particularidade de ações domésticas no interior das habitações. De destacar a obra “A rapariga com o Brinco de Pérola” que já refletiu no cinema um filme dedicado à sua génese. O segundo interveniente, Tim Jenison, fundador de uma das maiores empresas de pós-produção de imagem, criação de software e hardware para suporte de vídeo em equipamentos informáticos. E como se reúnem os dois? Para além da admiração de Tim pela obra de Vermeer, tenta através de várias abordagens replicar a sua obra com a tecnologia atual, mas, sobretudo, desvendar os segredos latentes na perspetiva de um dos maiores mestres de pintura à vista da História da arte. Para descobrir ou redescobrir Vermeer.


quinta-feira, 19 de março de 2015

Animagem (#06/2015)

Desire (Desejo), é uma fantástica animação sobre um robô e a sua descoberta do mundo, novas ferramentas e ambições. A animação é acompanhada pela música "Desire" de Rob Fetters.




Gumball Wars (Guerra das Pastilhas), é uma animação da mesma equipa "Red Echo Post" e um bónus na edição de hoje de Animagem. ;)


segunda-feira, 16 de março de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#11/2015)

Song of the cut-price poets


1
What you´re reading now is written troughout in metre!
I say this because you no longer know (it seems)
What a poem is or what being a poet means.
Truly you might have thought up some way of treating us better.


O que estás a ler agora foi escrito em métrica.
Digo-o porque não conheces (parece-me)
O que é um poema ou o que significa ser poeta.
Tu podias pensar em algo que verdadeiramente nos melhor considerasse.


2
Tell me, has nothing struck you? Do you never wonder?
Did you realize new poetry has long since ceased to appear?
And do you know why? No. Well, here´s my answer:
People used to read poets once, and paid them. That´s clear.


Alguma coisa te atingiu, diz-me? Tu nunca te questionas?
Nunca te apercebeste há quanto tempo deixou de aparecer nova poesia?
Sabes porquê? Não. Bem, aqui vai a minha resposta.
No passado as pessoas ouviam poetas, e pagavam-lhes. É um facto.


3
But no one pays out hard cash for poems today
And that´s why no poetry´s written now
For the poet asks not just who will read, but who`ll pay
And if he´s not paid he won`t write. That´s the pass you have brought things to.


Mas hoje ninguém paga metal sonante por poemas
E é por isso que nenhuma poesia é escrita hoje
Pois o poeta não só pergunta quem o lê, mas quem a paga
E se ele não for pago, não escreve. Esta é a morte que provocaste à coisa.


4
But why should this be, he asks. Just what is my crime?
Haven`t I always done what was ordered by those who paid us?
Whatever I promised, that I fulfilled, given time.
And now too I hear from those of my friends who are painters.


Ele pergunta - Mas porque tem de ser assim? Qual é o meu crime?
Não fiz eu sempre tudo o que foi exigido por aqueles que nos pagam?
O que quer que eu tenha prometido, eu cumpri no seu tempo.
Mas agora também ouço dos pintores que são meus amigos.


5
That no more pictures are bought. Even though they say
The pictures too were flattering. Now they all remain unsold…
So what have you got against us? Why won´t you pay?
When you´re getting richer all the time, or so we`re told…


Que as pinturas não são vendidas. Eles ainda acrescentam
Que as pinturas são elogiosas. Agora todas permanecem por vender…
Mas o que é que tens contra nós? Porque não pagas?
Quando ficas mais rico dia após dia, ou assim nos dizem…


6
Didn`t we always, when we had enough to live on
Sing of the things that gave you pleasure on earth?
So they might give you pleasure anew: the flesh of your women
Sadness of autumn, a stream, the moon shining above…


Quando nós tínhamos o suficiente para viver, quão sempre
Cantámos sobre coisas que te davam prazeres terrenos?
Os mesmos devem novamente prazer dar: a carne de uma mulher
A tristeza do outono, um regato, no céu a lua brilhando…


7
The sweetness of your fruit, the rustle of falling leaves
And again the flesh of women. The eternity
Round you. All this we sang, sang too your beliefs
Your thoughts of the dust you become at the end of your journey.


A doçura dos teus frutos, o murmurar de folhas caídas
E novamente a carne das mulheres. A eternidade
À tua volta. Cantámos tudo isto, cantámos também as tuas convicções
Pensamentos teus do pó em que te transformarás no final da tua jornada.


8
But this was not all you paid for, and gladly. On golden chairs
Sitting at ease, you paid for the songs which we chanted
To those less lucky. You paid us for drying their tears
And for comforting all those whom you had wounded.


Mas não foi tudo isto que tu pagaste, felizmente. Na dourada cadeira
Sentando à vontade, tu pagaste pela canção que cantámos
Àqueles menos afortunados. Por secar as suas lágrimas tu pagaste
E para confortar todos aqueles que tu tenhas ferido.


9
We gave you so much. What did we ever refuse you?
Always submissive, we only asked to be paid.
What evil have we not done – for you! What evil!
And always contented ourselves with the scraps from your board.


Tanto te demos. O que é que recusamos de ti?
Perguntamos sempre submissos apenas para ser pagos.
Que pecados não fizemos nós – por ti! Que pecados!
E sempre nos contentamos com os restos da tua mesa.


10
To the shafts of your wagons sunk deep in blood and mire
Time and again we harnessed our splendid words
Called your huge slaughteryards Field of Honor
True steel, trusty companions your bloodstained swords.


Sangue e lama até aos cabos dos teus vagões afundados
Temos aproveitado as tuas esplêndidas palavras dia após dia
Chamado o teu grande matadouro campos de honra
Vero aço, companhia fiel das tuas espadas ensanguentadas.


11
On the forms you sent to us demanding taxes
We painted the most astonishing pictures for you.
Bellowing in chorus our hortatory verses
The people, as always, paid the taxes you claimed were due.


Sobre os formulários em que tu exigias impostos
Nós pintámos de ti as mais admiráveis imagens
Mugindo em coro a nossa oratória em verso
O povo sempre pagou os impostos por ti reclamados.


12
We studied works and mixed them together like potions
Using only the strongest and best of them all.
The people swallowed everything that we gave them
And came like lambs at your call.


Nós estudamos obras e misturámos tudo como poções
Usando de tudo o melhor e o mais forte
As pessoas engoliam tudo o que lhes dávamos
E vinham que nem cordeiro à tua palavra.


13
We always compared you only with what admired
Mostly with those who, like you, received unmerited tributes
From those who, starving like us, hung round their patrons for food
And your enemies we hunted down with poems like daggers.


Nós sempre vos comparámos com os vossos gostos
Sobretudo com aqueles como vós que receberam desmerecidos méritos
E com poemas como punhais caçámos os vossos inimigos
Aqueles que, famintos como nós, rodeiam os seus patrões por comida


14
Why then have you all of a sudden forsaken our market?
Don´t sit so long over meals! The scraps that we get will be cold.
Why don´t you commission something – portrait or panegyric?
Or have you come to think your plain selves are a treat to behold?


Por que é que então repentinamente esqueceu o nosso Mercado?
Às refeições não se senta longamente? Os restos que recebemos ficarão frios.
Por que é que tu não encomendas nada – retracto ou panegírico?
Ou tu reflectiste que as tuas prateleiras vazias são uma beleza para contemplar?


15
Watch out! You can`t dispense with us altogether!
If we could only compel you to look our way!
Believe me, sirs, today you would find our stuff cheaper.
You can`t exactly expect us to give it away.


Atenção! Tu não podes dispensar-nos de maneira nenhuma!
Se ao menos pudéssemos obrigar-te a olhar-nos!
Senhores acreditai, hoje podeis achar o nosso material barato.
Tu não podes supor que o deitemos completamente todo fora.


16
When I began what you`re reading now (but are you?)
I wanted each stanza to rhyme all through
Then thought: That´s too much work. Who`ll pay me for it?
And so regretfully left it. It´ll just have to do.


Quanto eu comecei o que tu agora lês (mas será que lês?)
Eu queria que rimasse cada estância em pleno
Lamentavelmente assim o deixei! E assim vai ter de bastar.
É que pensei: É muito trabalho. Quem é que me pagará por isso?


Bertolt Brecht - "The impact of cities - 1925-1928"
(Do livro Poems Part one. Tradução de versão inglesa por Paulo Seara.)

domingo, 15 de março de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#11/2015)



Esta banda de "Punk Rock" Americana lançou em 2013 o EP "Chalk Tape". Musicalmente diverso, este EP desenvolve as influências psicadélicas que tínhamos no aclamado álbum anterior de 2012 "Ugly", tornando as músicas mais sofisticadas. A banda disse que as ideias foram sendo colocadas a giz num quadro negro e depois transpostas para este "Chalk Tape". Adicionam linhas de baixo para diferentes "grooves", novas mudanças para um florescimento melódico.
Fiquem com "Poison Arrow".


sábado, 14 de março de 2015

O Aniversário da Marlene por Rogério Paulo E. Martins (#04/2015)

O aniversário da Marlene é um conto, da autoria de Rogério Paulo E. Martins, do qual será partilhado um parágrafo semanalmente (independentemente do seu comprimento). Sempre aos Sábados, pelas 21:30, não percas, um exclusivo da Pomar de Letras.


Lê os primeiros parágrafos.


Já referi que tinha treze anos. Sabeis o que acontece aos rapazes por esta altura? Sim, isso também. Mas estava a falar de algo um pouco mais inocente; deixam de “repudiar” as raparigas e de vê-las com os mesmos olhos, quer dizer, os olhos são os mesmos, o cérebro é que começa a interpretar as curvas de outro modo. E qual é a coisa mais absurda que a testosterona nos leva a fazer? Exacto, a exibirmo-nos como pavões no cio, peito inchado como um gorila, hum!, macacada é de facto uma boa expressão para a coisa, fiquemos por aqui. Impressionar! Impressionar as fêmeas deve ser a questão mais similar em todas as espécies, todos comemos, respiramos, etc. Mas se há algo que, de facto, nos une, é o modo como em todas as espécies, o macho tenta sempre ser o galo da capoeira, impressionando as suas fêmeas, com demonstrações ridículas, que só a testosterona deve compreender no seu deturpado sentido de humor hormonal. É inevitável. E no dia do aniversário da Marlene – décimo quarto, para quem se interrogue – eu saltei o portão, após ter visto duas raparigas mais velhas passar, mesmo em frente a este, em direcção ao supermercado que ficava mesmo ao lado da minha casa. Duas raparigas que, hoje nem sei se as reconheço, nem sei já os nomes e nem sei tampouco que é feito delas, foram em parte responsáveis pelo acontecimento que marcou aquele dia e ignoraram-no tão completamente como eu ignoro o dia em que fui concebido.

sexta-feira, 13 de março de 2015

SCREEN SHOT por A.A.M. (#11/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Realização: Kip Andersen, Keegan Kuhn


Este filme documental está longe de gerar consenso. Instigador e com algum sentido de humor subjacente, Cowspiracy traz à discussão um tema batido: Alterações Climáticas. Hoje em dia e com o acesso ilimitado à informação, em breves minutos encontra-se informação detalhada, estudos e testes que comprovam as verdadeiras causa do efeito estufa e que medidas estão a ser aplicadas quer por legisladores quer por habitantes locais para reduzir esse meio efeito. Grande parte das pessoas saberá que o fator que mais influencia a alteração das condições climatéricas é a produção animal destinada à alimentação. O que não se entende é que ninguém fala sobre isso e até evitam a questão, como é demonstrado neste documentário. Porquê? Controverso, no mínimo, vem demonstrar o impacto dos hábitos alimentares e em que medida uma alimentação baseada em excesso no consumo de carne é mais prejudicial para o ambiente do que toda emissão de gases gerados por combustíveis fosseis. Para ver e reflectir.


terça-feira, 10 de março de 2015

Ditados Impopulares (#05/2015)



"Um provérbio que desvaloriza a individualidade das leguminosas mas que acaba por ser prático e eficaz."

Segue os Ditados Impopulares no facebook. ;)

segunda-feira, 9 de março de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#10/2015)

Identity...


Gestos trucidados pela leveza incoerente da lâmina abrupta coexistem nas vicissitudes diurnas que gritantemente giram em torno do pensamento que secretamente se encontra em outro local... aquando dos cortes ponderados ao milímetro, como que uma pausa ritmada numa melodia violenta que explora todos os sentidos, vives na transparência camuflada com comentários e passos na neblina, ecoo as palavras que se traduzem em ideias transpostas com a veracidade duvidosa que é implicada na conversa discretamente cordial, mas na verdade, verdadeiramente venenosa... o grito interno diz "vai-te foder", o som emitido é "pois claro", a estupidez da instância é evocada na amplitude do dia-a-dia quando apenas pretendes estar em outro local, em outra gritante situação para aí seres o que a identidade desconhece...


Nuno Baptista

domingo, 8 de março de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#10/2015)



DIIV, uma banda de "Indie-Rock" de New York lançou em 2012 o que a "Pitchfork" considerou o vigésimo segundo melhor álbum de 2012, "Oshin". Com músicas instrumentais, um "reverb" bastante bom, guitarras e voz apropriada para o objectivo da banda, este trabalho torna-se ecléctico e preenche a busca que DIIV se propôs a alcançar, fazendo um álbum de estreia cheio de boas referências e a crítica claramente apelida de sucesso.
Fiquem com "How Long Have You Known".


sábado, 7 de março de 2015

O Aniversário da Marlene por Rogério Paulo E. Martins (#03/2015)

O aniversário da Marlene é um conto, da autoria de Rogério Paulo E. Martins, do qual será partilhado um parágrafo semanalmente (independentemente do seu comprimento). Sempre aos Sábados, pelas 21:30, não percas, um exclusivo da Pomar de Letras.

Lê os primeiros parágrafos.
I aqui.
II aqui.



Mas na data de aniversário da Marlene, a estrada estava calma, nenhum carro atropelou a bola e pude ir buscá-la intacta ao outro lado, para onde girara. Coloquei-a no passeio e pontapeei-a para o outro lado da estrada, para dentro do pátio, onde a minha irmã a agarrou. Eu como era hábito na altura, iria saltar o portão. Mas não era um salto qualquer, era um salto de ginasta, na verdade nem era bem um salto, eu rodopiava sobre o portão, passando os braços sobre ele e agarrando-me num ponto de apoio que me permitia uma aterragem suave e graciosa, pelo menos eu assim o cria. Era majestoso. Então, como sempre, saltei o portão.

sexta-feira, 6 de março de 2015

SCREEN SHOT por A.A.M. (#10/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Série: Regular Show (2009)
Criador: J.G. Quintel


Regular Show é uma série de animação daquelas que não só as crianças vão querer ver. Descomplexada, é ao mesmo tempo cativante pela sua simplicidade ingénua muitas vezes desprendida dos conceitos habituais de realidade não fosse esta série de desenhos animados. De qualquer forma, não é extraordinária, é regular. E é essa a beleza da série, em não ser sobrestimada. A série baseia-se nas aventuras diárias de dois amigos, um pássaro gaio-azul e um guaxinim entre outras personagens. Ambos têm a responsabilidade de manter o parque limpo, mas nem sempre essa tarefa é fácil e previsível como seria de esperar. Para ver sem compromisso.


quinta-feira, 5 de março de 2015

segunda-feira, 2 de março de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#09/2015)

Olha essas janelas


Olha essas janelas.
Repara como o tempo
as cingiu num abraço corruptor,
como se fizeram brandas
e silenciosas sobre
o bulício da rua.

Lembra como, outrora,
mãos diligentes ajeitaram
as pregas das cortinas,
as mesmas mãos
que se ergueram
em saudosas despedidas.

Talvez te lembrem juras de amor,
beijos lançados, à socapa,
talvez olhares furtivos…

Olha-as e repara
como se fez noite dentro delas
e lhes nasceram fantasmas

nas entranhas.


Luísa Félix

domingo, 1 de março de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#09/2015)



Balthazar é uma banda de "Indie Rock" Belga que lançou na Europa, em 2013, o seu segundo álbum, "Rats". Com as misturas de Noah Georgeson, o mesmo que colaborou com Devendra Banhart e The Strokes, este trabalho demonstra frescura, suavidade e letras que ficam no ouvido. Recorrem a uma fórmula cativante que permite ao leitor ouvir as músicas criadas, quer tenha acabado sair do trabalho ou, simplesmente, se encontra deitado a usufruir do bom descanso.
Fiquem com a extraordinária "The Man Who Owns The Place".