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terça-feira, 30 de junho de 2015

Ditados Impopulares (#13/2015)



"Um provérbio que prevê más condições atmosféricas de um ponto de vista masculino."


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segunda-feira, 29 de junho de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#26/2015)

Poema pouco original do medo


O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos


Alexandre O'Neill

domingo, 28 de junho de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#26/2015)



Vinnie Who são uma banda Dinamarquesa cujo segundo álbum se intitula "Midnight Special". Estes jovens não abrandam um segundo neste trabalho que tem melodias que ficam no ouvido, referências nostálgicas aos anos 80 e uma voz atractiva e extraordinária para a pinta da banda. Este álbum vai dar vontade ao leitor de dançar, mesmo que não goste de o fazer.
Fiquem com "The Wiggle" e desfrutem da boa disposição.


sexta-feira, 26 de junho de 2015

SCREEN SHOT por A.A.M. (#26/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Clássico: The Holy Mountain (1973)
Realização: Alejandro Jodorowsky


Da vasta filmografia do mestre de cinema Alejandro Jodorowsky, destacamos Holy Mountain que não só realiza como também desenha, escreve e participa nesta obra. Pode-se afirmar que é um dos filmes mais singulares da história do cinema. Toda a conjetura da componente visual traz-nos um significado intrínseco. Nada é deixado ao acaso e cada objeto e cada movimento têm a sua própria representação para além daquilo que é visível. O teor do seu conteúdo coloca em causa valores sociais, estratificação política e uma forte componente religiosa onde tudo é questionado e questionável. Jodorowsky traz-nos numa visão psicadélica e surreal desconstruída, a representação dos alicerces corruptos da sociedade. Um filme intemporal, com imagens fortes num caleidoscópio de cores, que por seu lado não deixa de ser poético. Único!


quinta-feira, 25 de junho de 2015

Animagem (#13/2015)

iDiots (iDiotas*) é uma reflexão sobre o consumismo e a dependência autómata e idiota da sociedade pelo "status" e a tendência da última moda. Uma chamada de atenção para o nosso comportamento obsessivo e falsas prioridades sociais.




*Tradução Livre

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Livros que nos devoram por Luísa Félix (#05/2015)

(Depois de um hiato forçado no mês anterior, e pelo qual pedimos desculpa, Livros que nos devoram está de regresso à Pomar de Letras.)



A Porta, de Magda Szabó



 
Quando estudante universitária, detestava Schopenhauer; mais tarde, compreendi que devia reter
da sua teoria que qualquer relação sentimental é uma possibilidade de agressão, e, quanto mais deixo um homem aproximar-se, mais vias se abrem pelas quais o perigo me pode atingir. Não me foi fácil admitir que eu devia, para mais, contar com Emerence, a sua existência tornara-se uma das componentes da minha vida e, no início, fiquei apavorada com a ideia de a perder, se lhe sobrevivesse, o que aumentaria o meu exército de sombras, cuja presença imanente e intangível me perturba e me mergulha no desespero.

Esta tomada de consciência em nada se modificou pelo comportamento de Emerence, variando segundo um número incalculável de chaves: por vezes, ela tratava-me de um modo tão rude que um estranho, se assistisse, se espantaria porque tolerava isso. Tal não contava: há muito que eu já não prestava atenção aos movimentos tectónicos que agitavam a superfície de Emerence; ela deve ter descoberto o mesmo, e, por mais que não quisesse arriscar o coração, (...) também ela não podia escapar à sua afeição por mim.


Magda Szabó, A Porta, Dom Quixote


Magda Szabó nasceu em 1917 e faleceu noventa anos depois, na Hungria. Durante o regime comunista, os livros da autora foram proibidos, regressando às livrarias no fim dos anos 50. A Porta, única obra da romancista traduzida para português, foi publicada em 1987 e adaptada ao cinema, com o título Atrás da Porta, em 2012.

A acção da obra tem início no período posterior à 1.ª Guerra Mundial, prolongando-se por algumas décadas. A narradora, Magda, uma jovem escritora, decide procurar uma governanta que a liberte do trabalho de casa, para poder dedicar-se à escrita. Alguém lhe recomenda Emerence. Esta aceita, mas impõe, desde logo, as suas regras.

Emerence, que teve um passado traumático, que procura, a todo o custo esconder e esquecer, mas que a persegue, revela-se austera, frontal, intempestiva, de trato difícil, mas, ao mesmo tempo, e contraditoriamente, generosa e compassiva, com animais e pessoas. Trabalha como doméstica em casa de Magda, passeia o cão, mas sobra-lhe tempo para limpar a neve ou as folhas da entrada de todas as casas da rua, para fazer comida para os vizinhos doentes, para tratar com carinho e zelo os gatos abandonados que acolhe em sua casa.

A velha senhora não permite que alguém entre em sua casa – concessão que faz um dia a Magda e, desde sempre, a um tenente-coronel amigo -, recebendo aqueles que a visitam ou que ela convida no pátio, não deixando, contudo de ser uma boa anfitriã, pois oferece chá e comida.

Emerence desdenha do Deus de Magda, da sua devoção à religião. Desvaloriza, igualmente, o trabalho intelectual, como se manifesta sempre contra o Estado, a Igreja e instituições de caridade. Considera Magda e o marido uns inúteis por não realizarem trabalhos que impliquem esforço físico. Pega nos livros de Magda, como em qualquer objeto de decoração, apenas para lhes limpar o pó.

Apesar do carácter estranho de Emerence, do seu temperamento quase intratável e da forma agressiva como chega a tratar as pessoas à sua volta, em particular Magda, todos a estimam e valorizam a sua disponibilidade, competência e generosidade. Entre ela e Magda, em particular, desenvolve-se um sentimento profundo, que é uma mistura de amizade, de admiração mútua e de mágoa.

A Porta revela-se uma obra sublime, pela intriga, pelo estilo, pelo que tem de documental, mas, sobretudo, porque constitui uma homenagem à amizade e uma análise minuciosa – ainda que dolorosa – das relações humanas. Uma leitura a considerar.


A autora, Luísa Félix, pode ser seguida no seu blogue, Letras são papéis.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#25/2015)

Duas folhas puxadas pelo vento
Tocam o fruto de que são espadas,
Levemente trémulas e molhadas,
Murmurando um sentido canto.
E vai ficando um rasto às rodas
Molhando o pêssego de encanto.


Hugo Carabineiro

domingo, 21 de junho de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#25/2015)



Karoline Hausted é uma "Songwriter" Dinamarquesa com uma qualidade acima da média. Firmada na música desde 1997, lançou, em 2013, "Time In Mind". Com letras intensas, com uma das melhores vozes femininas que já ouvi e com melodias arrepiantes (no melhor dos sentidos), este trabalho é extremamente belo, entranha-se e não se quer mais nada. O hipnotismo é evidente, comprovem com "Time In Mind" e deambulem no horizonte.


sexta-feira, 19 de junho de 2015

SCREEN SHOT por A.A.M. (#25/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Filme: 20,000 Days on Earth [20.000 Dias na Terra] (2014)
Realização: Iain Forsyth, Jane Pollard


Há filmes que nenhuma descrição fará juz ao seu conteúdo, 20.000 Dias na Terra é para ser visto e não para ser contado. Um filme documental, retrato íntimo num ambiente poético que reflete a construção de um dos maiores ícones da música e da arte da atualidade - Nick Cave. Obrigatório ver.


terça-feira, 16 de junho de 2015

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#24/2015)

A Floresta de Cedofeita


Foram estas as ruas que se ergueram
para nós, mal desenhadas, velozes sob o fardo
dos nossos adereços:símbolos de pano,
mortalhas, música ligeira com muitos violinos
e um coro de mulheres. Mas o movimento
rasa apenas a superfície das coisas, é a malha
onde prendemos os olhos, uma espécie de venda.

A floresta que conduzia à igreja está debaixo
do cimento – não a ouves respirar? Tudo o que cresce
sobre a terra tem a mesma vocação, as casas, o passado,
o corpo em todo o caso: qualquer coisa o segura
desde o princípio. E as praças que estiveram
ao fundo da noite uma vez
é para onde caminhamos a vida inteira.


Rui Pires Cabral

domingo, 14 de junho de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#24/2015)



O "Guardian" considerou-o um dos grandes regressos das guitarras de 2013. Os Foals lançaram "Holy Fire" e o álbum obteve níveis de sucesso invejáveis. O "Indie Rock" está lá, e as colunas pedem para aumentar o volume... este trabalho demonstra credibilidade, consistência, pujança quando menos se espera, explosivo. É a banda a dizer "Estamos cá". O single "Inhaler" revela estas características, a suavidade e a explosão.
Fiquem com "Inhaler".


sexta-feira, 12 de junho de 2015

SCREEN SHOT por A.A.M. (#24/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Filme: Ex Machina (2015)
Realização: Alex Garland


O teste de Turing, criado por Alan Turing com publicação no seu artigo “Computing Machine and Intelligence” em 1950, tem como principal objetivo comprovar se uma máquina pode ou não ter pensamento próprio, ou seja determina a sua capacidade de inteligência. Nesse teste é feito um inquérito por uma pessoa humana a duas entidades: um humano e uma máquina. Ambos estão isolados e comunicam apenas através de texto respondendo a uma série de questões. Se no final a pessoa que interroga não conseguir distinguir com certeza qual das duas entidades é o humano, considera-se que a máquina passou o teste. Posto isto, Alex Garland constrói um argumento, que ele próprio dirige, onde um programador tenta provar a inteligência própria de um andróide que construiu. No filme, um jovem tem pela frente uma robô andróide e o desafio é encontrar características humanas contra uma forte evidência e descrença de antemão. E afinal quais são essas características que nos definem como humanos? Podem elas ser replicadas? Podem ser programadas? Com uma carga emocional forte e suspense crescente até ao último minuto, aliados à conjunção de imagens e som excelentes, fazem deste um dos filmes mais inesperados aliados ao tema do momento, a Inteligência Artificial.


quinta-feira, 11 de junho de 2015

Animagem (#12/2015)

I see (Vejo*) é uma animação abstracta, explorando num ambiente soturno as sórdidas perturbações da nossa realidade.




*Tradução Livre

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#23/2015)

(in)coherent sprawl


A infame nuvem levita em cima da tua cabeça, sentes-te acusado, revoltas-te com a pedra que descansava no passeio, hesitas, é suficiente a alienação, lembras-te de algo parvo, voltas à nuvem, talvez o local não seja o indicado, as práticas tornam-se falíveis, pensas em genes, voltas à nuvem, as implicações estão erradas, pensas nas chaves de casa, voltas à nuvem, a energia é mal aplicada, a página está rasgada, pensas na importuna buzina que acabas de ouvir, voltas à nuvem, antecipas tempos, comutas, cogitas, transcreves, passas a mão na testa, sentes a aceleração, olhas a estrada, voltas à nuvem, olhas a estrada, voltas à nuvem, olhas a estrada, voltas à nuvem, olhas a estrada, voltas à nuvem, olhas a estrada, voltas à nuvem, culpas o culto exercido, sentes-te acusado novamente, eclode a partilha interna dos teus órgãos, extravasas-te, sentes o aperto, sentes o frio, voltas à nuvem… estás aqui, na abertura quebrada que transpira entre tuas lentes, que te usam como suporte na cura desenfreada do apelo mantido pela mercê da inacabada senda que te levará automaticamente onde quiseres ir…


Nuno Baptista

domingo, 7 de junho de 2015

Undenied Pleasures por Nuno Baptista (#23/2015)



Atlas Genius estrearam-se em 2013, com "When It Was Now". Falo de uma banda Australiana que cria um "Indie Rock" de qualidade considerável, demonstram "estaleca", recorrem a baixos para o "background", uma batida que acompanha exemplarmente as músicas, guitarras que exploram o ambiente e criam um intimismo fascinante.
Fiquem com o single "Symptoms" e comprovem vocês mesmos.



sexta-feira, 5 de junho de 2015

SCREEN SHOT por A.A.M. (#23/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Série: Backstrom (2015)
Criador: Hart Hanson


Alcoólico, com excesso de peso e fumador de charutos, pode não ser o perfil ideal para um detetive perfeito, mas os criminosos não querem saber. Everett Backstrom também não quer saber deles. Para ele tudo é um jogo, um desafio. E desvendar o enigma é um teste diário à sua inteligência. Mas quando a sua saúde põe em causa o funcionamento normal da sua unidade especial de combate ao crime são-lhe impostas visitas regulares ao médico e uma série de regras para que possa continuar a exercer o seu trabalho. Do mesmo criador de “Bones” surge esta série de comédia criminal em que episódio atrás de episódio se desvendam os crimes mais insólitos através de uma perspetiva peculiar. Rainn Wilson, no papel do detetive, coloca-se na pele do suspeito levando a que grande parte das vezes sejam encontradas pistas que pelos métodos de investigação normal não seriam reveladas. No mínimo, interessante.


terça-feira, 2 de junho de 2015

Ditados Impopulares (#11/2015)

(*Hambúrguer)


"Um provérbio que gosta de dar ao dente de olhos vendados para apreciar melhor o sabor."


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segunda-feira, 1 de junho de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#22/2015)

Cântico Negro


"Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí.


José Régio