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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Livros que nos devoram por Luísa Félix (#10/2015)

A metamorfose, de Franz Kafka


«Certa manhã, ao acordar após sonhos agitados, Gregor Samsa viu-se na sua cama, metamorfoseado num monstruoso insecto. Estava deitado de costas, umas costas tão duras como uma carapaça, e, ao levantar um pouco a cabeça, viu o seu ventre acastanhado, inchado e arredondado em anéis mais rígidos, sobre o qual o cobertor, quase a escorregar, dificilmente se mantinha. As suas numerosas patas, lamentavelmente raquíticas, comparadas com a sua corpulência, remexiam-se desesperadamente diante dos seus olhos.»




Franz Kafka, A metamorfose,
Público, Colecção «Mil Folhas»


Gregor Samsa é um vendedor, que vive com os pais e com a irmã. Funcionário e filho zeloso, levanta-se todos os dias bastante cedo para apanhar o comboio, que o leva a diferentes destinos. A sua maior preocupação é garantir o sustento da casa e saldar a dívida dos pais ao patrão. Sonha em poder pagar o Conservatório à irmã, que toca violino. 

Um dia, de chuva e de céu nublado, Gregor acorda um pouco mais tarde do que o habitual e vê-se transformado num insecto monstruoso que, pela descrição, se supõe ser uma barata. Pergunta-se se estará a viver um sonho, ocorrendo-lhe, depois, que possa estar a delirar, por não ter dormido o suficiente.

Apesar da metamorfose que se operou em si, atormenta-o, sobretudo, a impossibilidade de chegar a horas ao trabalho e a imagem de funcionário incompetente que dará de si. Enquanto está de costas, sem conseguir levantar-se, ele reflecte sobre a vida cansativa que leva e sobre o sonho adiado de ter um emprego que não o obrigue a dormir frequentemente fora de casa, a correr para os transportes e a alimentar-se mal e fora de horas.

Ao longo do tempo, ainda que no íntimo permaneça a mesma pessoa, Gregor vai sendo vítima da repulsa e do preconceito dos pais, das criadas e dos três cavalheiros que se hospedam lá em casa e que se sentem defraudados pela família, quando são confrontados com o seu aspecto monstruoso. A certa altura, até a própria irmã, que parece, durante muito tempo, ser a única com coragem suficiente para o alimentar e manter o quarto limpo, chega a desejar a sua morte.

A novela, publicada em plena Primeira Grande Guerra (1915), foi escrita em 1912, em língua alemã e tornou-se uma das obras mais lidas em todo o mundo, tendo sido, inclusive adaptada ao cinema.


A autora, Luísa Félix, pode ser seguida no seu blogue, Letras são papéis.

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