Crime Entre Amigos
"O homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe."
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
Filósofo e escritor francês
Capítulo I – 29 De Outubro a 1 De Novembro
O velho Gonçalves
tinha acabado o dia exausto. Não pensando mais sequer no souto,
tinha a percepção do seu cansaço, as suas pernas de oitenta anos tinham ganhado
raízes de pedra. Durante o sono, morreu na tranquilidade de uma morte natural e indolor. Deixou as terras das quais viveu
e alisou com ternura, e o seu ofício na sacristia que cumpria como um relógio. No primeiro de Novembro, encontrou-se a sua face com a daqueles
que se lembravam de visitar os seus entes. Mas agora os que vinham, não os ia ver; e, numa dupla romagem, o povo prestou
as exéquias ao
defunto e aos velhos mortos do cemitério.
E
consumando-se esta data, era observar uma centopeia de gente que viajou das mais diversas latitudes e que se deparou com o violento e
patético caso de se sepultar um morto no
dia da homenagem aos mesmos. Foi este acaso que à tarde reuniu Rogério e Edmundo. Edmundo apenas largou
alguns sussurros, e com brevidade lhe disse
que ao fim da manhã no dia seguinte deveria aparecer no campo de futebol e, com
um aceno final, deu um ímpeto à voz dizendo-lhe que era muito importante. Rogério ficou perplexo, o que poderia
ser tão importante que necessitasse que aparecesse no campo de futebol, e logo aí,
onde sempre aparecia a garotada; que, como ele, frequentava, ocasionalmente, o
campo. Com os pensamentos baços, seguiu para casa, não respondendo às interrogações da mulher, mais achegada,
querendo com momices saber de algo que, de facto, nada é.
Sem comentários:
Enviar um comentário