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sábado, 18 de outubro de 2014

Crime Entre Amigos por Paulo Seara

Crime Entre Amigos



"O homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe."
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
Filósofo e escritor francês


Capítulo I – 29 De Outubro a 1 De Novembro



O velho Gonçalves tinha acabado o dia exausto. Não pensando mais sequer no souto, tinha a percepção do seu cansaço, as suas pernas de oitenta anos tinham ganhado raízes de pedra. Durante o sono, morreu na tranquilidade de uma morte natural e indolor. Deixou as terras das quais viveu e alisou com ternura, e o seu ofício na sacristia que cumpria como um relógio. No primeiro de Novembro, encontrou-se a sua face com a daqueles que se lembravam de visitar os seus entes. Mas agora os que vinham, não os ia ver; e, numa dupla romagem, o povo prestou as exéquias ao defunto e aos velhos mortos do cemitério.


E consumando-se esta data, era observar uma centopeia de gente que viajou das mais diversas latitudes e que se deparou com o violento e patético caso de se sepultar um  morto no dia da homenagem aos mesmos. Foi este acaso que à tarde reuniu Rogério e Edmundo. Edmundo apenas largou alguns sussurros,  e com brevidade lhe disse que ao fim da manhã no dia seguinte deveria aparecer no campo de futebol e, com um aceno  final, deu um ímpeto à voz dizendo-lhe que era muito importante. Rogério ficou perplexo, o que poderia ser tão importante que necessitasse que aparecesse no campo de futebol, e logo aí, onde sempre aparecia a garotada; que, como ele, frequentava, ocasionalmente, o campo. Com os pensamentos baços, seguiu para casa, não respondendo  às interrogações da mulher, mais achegada, querendo com momices saber de algo que, de facto, nada é.

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