Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Livros que nos devoram por Luísa Félix

Uma Agulha no Palheiro / À Espera no Centeio


Bastou a J. D. Salinger criar, na década de cinquenta do século passado, uma personagem como Holden Caulfield para que uma das suas obras se tornasse uma das mais lidas por várias gerações de adolescentes.

A obra, que integrou, durante alguns anos, o programa da disciplina de Inglês do 12.º ano, não foi apenas lida, como inspirou músicos (para exemplo, refira-se a existência de uma banda com o nome do protagonista), filmes (em Teoria da Conspiração, a personagem interpretada por Mel Gibson é de tal forma obcecada pelo livro que não resiste a comprar um exemplar sempre que tem oportunidade) ou assassinos (Mark Chapman, o homem que matou John Lennon, em 8 de Dezembro de 1980, fazia-se acompanhar de um exemplar de The Catcher in the Rye).
Holden, um jovem de dezassete anos, é, simultaneamente, o narrador e protagonista do romance cujo título, em Portugal, foi traduzido, nas primeiras edições (Livros do Brasil), como Uma Agulha no Palheiro e, mais recentemente, como À Espera no Centeio.
A acção da obra decorre sobretudo em Nova Iorque, antes do início das férias de Natal. Holden Caulfield, que pertence a uma família de classe média-alta, fica a saber que será expulso de mais um colégio. Depois de uma conversa com o professor de História, o único que verdadeiramente admira e respeita, decide, sem que os pais saibam, antecipar a ida para Nova Iorque, onde vagueia durante três dias.
Holden avisa-nos, logo na primeira página, que tenciona contar-nos os acontecimentos que o conduziram à casa de saúde, que supomos ser um hospital psiquiátrico, onde se encontra quando inicia o relato. No seu “diálogo” com o leitor, o jovem, num registo marcadamente coloquial, em que abunda o calão, conta não só os incidentes imediatos à sua partida para a “big apple”, como dá conta das reflexões que personagens com as quais se cruzou e situações que presenciou suscitaram. Fala também do irmão que lhe foi roubado pela doença e que continua a admirar, do irmão mais velho que, segundo ele, desperdiça talento e se “prostitui”, escrevendo guiões para Hollywood, dos pais, por quem sente algum desprezo, e da ternura que o liga à irmã. É, aliás, numa incursão nocturna e furtiva a casa dos pais, que Phoebe, a irmã de seis anos, o confronta com a sua imaturidade e com as suas indecisões sobre o seu futuro profissional.
Holden cativa, não só pela irreverência, como pelo sentido de humor e por uma certa fragilidade que desperta talvez em nós um certo instinto protector.
Para quem se sente à vontade com o inglês, aconselha-se a leitura no original, visto que certas expressões perdem o seu sentido pleno quando traduzidas. Tal não invalida que os menos “corajosos” não possam lê-la em português e desfrutar de bons momentos de leitura. Fica o conselho.


Sem comentários: