Bastou a J.
D. Salinger criar, na década de cinquenta do século passado, uma personagem como Holden Caulfield para que uma das suas obras se tornasse uma das mais
lidas por várias gerações de adolescentes.
A obra, que
integrou, durante alguns anos, o programa da disciplina de Inglês do 12.º ano,
não foi apenas lida, como inspirou músicos (para exemplo, refira-se a
existência de uma banda com o nome do protagonista), filmes (em Teoria da Conspiração, a personagem
interpretada por Mel Gibson é de tal forma obcecada pelo livro que não resiste
a comprar um exemplar sempre que tem oportunidade) ou assassinos (Mark Chapman,
o homem que matou John Lennon, em 8 de Dezembro de 1980, fazia-se acompanhar de
um exemplar de The Catcher in the Rye).
Holden, um
jovem de dezassete anos, é, simultaneamente, o narrador e protagonista do
romance cujo título, em Portugal, foi traduzido, nas primeiras edições (Livros
do Brasil), como Uma Agulha no Palheiro
e, mais recentemente, como À Espera no
Centeio.
A acção da
obra decorre sobretudo em Nova Iorque, antes do início das férias de Natal.
Holden Caulfield, que pertence a uma família de classe média-alta, fica a saber
que será expulso de mais um colégio. Depois de uma conversa com o professor de
História, o único que verdadeiramente admira e respeita, decide, sem que os pais
saibam, antecipar a ida para Nova Iorque, onde vagueia durante três dias.
Holden
avisa-nos, logo na primeira página, que tenciona contar-nos os acontecimentos
que o conduziram à casa de saúde, que supomos ser um hospital psiquiátrico,
onde se encontra quando inicia o relato. No seu “diálogo” com o leitor, o
jovem, num registo marcadamente coloquial, em que abunda o calão, conta não só
os incidentes imediatos à sua partida para a “big apple”, como dá conta das
reflexões que personagens com as quais se cruzou e situações que presenciou
suscitaram. Fala também do irmão que lhe foi roubado pela doença e que continua
a admirar, do irmão mais velho que, segundo ele, desperdiça talento e se
“prostitui”, escrevendo guiões para Hollywood, dos pais, por quem sente algum
desprezo, e da ternura que o liga à irmã. É, aliás, numa incursão nocturna e
furtiva a casa dos pais, que Phoebe, a irmã de seis anos, o confronta com a sua
imaturidade e com as suas indecisões sobre o seu futuro profissional.
Holden
cativa, não só pela irreverência, como pelo sentido de humor e por uma certa
fragilidade que desperta talvez em nós um certo instinto protector.
Para
quem se sente à vontade com o inglês, aconselha-se a leitura no original, visto
que certas expressões perdem o seu sentido pleno quando traduzidas. Tal não
invalida que os menos “corajosos” não possam lê-la em português e desfrutar de bons
momentos de leitura. Fica o conselho.
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