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segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#02/2015)

Os que da morte se apercebem


Inclino-me sobre o linho sujo e desfiado destes dias
E lavo o sangue na cal branca das horas ingénuas

Tínhamos tempo e o veneno só conspirava na literatura
O caminho era plasticina azul fluida e leve como o lume

E as mãos desenhavam gaivotas de sombra nas paredes
Que voavam até onde as altas falesias desafiavam o céu

A peste veio hoje vestida de ninfa branca e deu-me a boca escarlate
E convidou-me para dançar entre flores de champagne e de cicuta

Preferi o sorriso aquático das estrelas e a doçura de uma rosa de água

Felizes os que da morte da alma se apercebem

E sonhando a vida tão vasta quanto o sonho se concedem!


Valter Guerreiro

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