Pesquisar neste blogue

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Poesia de primeira, à Segunda-Feira (#48/2015) [Outra vez na Terça-Feira.]

O lobo das estepes


Eu, lobo das estepes, corro, corro,
a neve cobre o mundo,
da bétula branca levanta voo o corvo,
mas nunca aparece uma lebre, nunca aparece um cervo.
E como eu amo os cervos!
Se por acaso encontrasse algum,
prendia-o com garras e dentes:
é a coisa mais bela em que penso.
Com os sensíveis seria também sensível,
devorava-os todos de extremo a extremo,
bebia-lhes até ao fundo o sangue púrpura e espesso,
e solitariamente uivava pela noite dentro.
Contentava-me com uma lebre.
É tão doce à noite o sabor da sua carne quente.
Porventura foi-me negado tudo quanto possa, um pouco,
alegrar-me a vida, um pouco apenas?
A minha companheira, há muito que não a tenho,
o pêlo da minha cauda começa a ficar cor de cinza,
e só quando há bastante luz é que vejo.
Agora corro e sonho com cervos,
ouço o vento soprar nas grandes noites de Inverno,
e a minha alma dolorosa, entrego-a eu ao demónio.


Hermann Hesse (mudado para português por Herberto Helder)

Sem comentários: