Para celebrar a entrada da Primavera e o dia mundial da poesia, durante esta semana, todos os dias haverá Poesia de primeira; dois poemas, um da autoria dos nossos colaboradores, o outro um poema de um autor escolhido por outro colaborador. Uma boa semana, boa Primavera, e boas leituras.
Juventude no
Sainsburys
Em Edimburgo
Juventude
que saíste à rua com todas as profissões
São oito
horas, nada tens e ficas incendiada a pensar no jantar.
A pasta
fresca e os molhos abraçam o leite de uma libra
No saco
laranja de um pôr-do-sol na fina película do dia
Como era
ontem, agora e sempre na suturação da candura laboral
Esta
juventude de cientistas vai para os quartos níveos
Aumentam os
níveis de ansiedade sob o olhar atento da Igreja de Tron
E as inquietações
carambolam policiadas pelos amigos distantes.
Juventude de
todas as conclusões das mais curtas às longas
Não
conheceste o tear, e a roda, e as palavras dos subordinados dos teus pais
Juventude de
países de primeiro mundo alimentando o carbono dos mercados
Os teus
exércitos populares insurgem-se para ir cantar aos jurados.
Dedica-se à
palavra, não; então à rima, não;
Recria-se na
mesma cultura, das mesmas andaduras
Os ciclos de
verduras encarreiradas. E os cabelos ondulados
E os
familiares de veludos e de trajes de luzes
Azuis de
orgulho, dourados de cinismo, fazem a plateia.
Ilumina-se
com este chicote, esta era de novos pobres
Sem pulso
para rasgar o nevoeiro, esperando o messias num pacote de bolachas.
Contemplam a
terra plantada de escravos
Com corpos
de vidro.
Levaste ovos
para casa, mas ficaram podres.
Não te
preocupes as galinhas tratam de ti.
Eu trato de
ti, sou uma fralda, amparo os teus humores,
Sou a alface
no teu traje de luces.
A parra do te
deum olha por vós
E vós por vós
olhais.
(06.07.2014)
Paulo Seara
Um homem tem de viver.
Um homem tem de viver.
E tu vê lá não te fiques
- um homem tem de viver
com um pé na Primavera.
Tem de viver
cheio de luz. Saber
um dia com uma saudade burra
dizer adeus a tudo isto.
Um homem (um barco) até ao fim da noite
cantará coisas, irá nadando
por dentro da sua alegria.
Cheio de luz - como um sol.
Beberá na boca da amada.
Fará um filho.
Versos.
Será assaltado pelo mundo.
Caminhará no meio dos desastres,
no meio de mistérios e imprecisões.
Engolirá fogo.
Palavra, um homem tem de ser
prodigioso.
Porque é arriscado ser-se um homem.
É tão difícil, é
(com a precaridade de todos os nomes)
o começo apenas.
- um homem tem de viver
com um pé na Primavera.
Tem de viver
cheio de luz. Saber
um dia com uma saudade burra
dizer adeus a tudo isto.
Um homem (um barco) até ao fim da noite
cantará coisas, irá nadando
por dentro da sua alegria.
Cheio de luz - como um sol.
Beberá na boca da amada.
Fará um filho.
Versos.
Será assaltado pelo mundo.
Caminhará no meio dos desastres,
no meio de mistérios e imprecisões.
Engolirá fogo.
Palavra, um homem tem de ser
prodigioso.
Porque é arriscado ser-se um homem.
É tão difícil, é
(com a precaridade de todos os nomes)
o começo apenas.
Fernando Assis Pacheco
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