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sexta-feira, 25 de março de 2016

Poesia de primeira, à Sexta-Feira (#12/2016)

Para celebrar o dia mundial da poesia (21 de Março), durante esta semana, todos os dias haverá Poesia de primeira; dois poemas, um da autoria dos nossos colaboradores, o outro um poema de um autor escolhido por outro colaborador. Uma boa semana, boa Primavera, e boas leituras.




Uniões I



Ideias, conceitos, vogo até ao termo despropositado de vulgares ideais idealizados, deambulatórios no pináculo sobriamente divagado nas curvas que te comandam… vozes aleatórias que perseguem o corpo, tributos turvos de atribulados espaços errantes, captas a instância, prevaleces na figura, observas atentamente aquele ponto que te persegue, deslumbras-te no vazio e consomes-te no tecido… Espraias-te no zimbório tocando com teus dedos, humedecidos no sexo, as extremidades das constelações esquecidas e deixas-te guiar para o papel. Pelo papel renasces bela, adormecida, dormindo num pesadelo de cetim, onde tu, Cronos, regurgitando teus filhos, te perdes na embriaguez das vagas encrespando seu abraço em teu redor. Num suave toque de seda, deixas-te deslumbrar pela ausência idealizada em mecanismos anatematizados pelo torpor do ódio enquanto olhas, captando o vazio. Deixas que o algodão te toque, doce como o mar.


Nuno Baptista e Rogério Paulo E. Martins


Espaços em Branco


Ao fim da noite, no frio do táxi, pousas 
a cabeça no meu ombro - e assim entramos 
duma vez e inteiramente na nossa vida. 
Lá fora, pelo contrário, tudo perde realidade; 

há em toda a parte um sossego abstracto, 
as ruas parecem pintadas - betão entre 
as árvores - numa tela baça. Vamos por lugares 
que não reconheço, a minha geografia é vaga 

e omissa como a dos velhos cartógrafos 
que desenhavam um mundo cheio de espaços 
em branco. É onde estamos agora, num 
intervalo do mapa rente à primeira manhã - 

que será a nossa e também a última.


Rui Pires Cabral

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