Pesquisar neste blogue

sábado, 21 de março de 2015

O Aniversário da Marlene por Rogério Paulo E. Martins (#05/2015)

O aniversário da Marlene é um conto, da autoria de Rogério Paulo E. Martins, do qual será partilhado um parágrafo semanalmente (independentemente do seu comprimento). Sempre aos Sábados, pelas 21:30, não percas, um exclusivo da Pomar de Letras.


Lê os primeiros parágrafos.
I aqui.
II aqui.
III aqui.
IV aqui.



Olhei a estrada, à esquerda e à direita, não havia carros, tudo perfeito para poder correr e ganhar o balanço necessário para erguer o corpo sobre o malfadado portão, tudo, menos as duas raparigas que então passavam. Não sei porquê, mas tive a feliz ideia de esperar que estas passassem o meu prédio, antes de lançar-me no salto que havia de partir-me o tornozelo. Na verdade não parti, ficou estalado e não digo só, pois me disseram que era pior estalar um osso do que, verdadeiramente, parti-lo, assim, e sem qualquer rigor científico, declaro que foi um trambolhão fodido. Na ânsia de impressioná-las, com a minha excelsa habilidade e capacidades físicas, turvo do pensamento pela testosterona e cego pelo orgulho, calculei mal o salto, errei o movimento, tudo foi mal executado e só em pleno ar, completamente, extasiado pela adrenalina, me apercebi de que haveria de falhar aquele salto. Incrivelmente, tinha duas opções, uma era tentar corrigir o salto e arriscar estatelar-me, violentamente, contra o portão – vinha de corrida desde o outro lado da estrada – ou, meramente, largar-me e, num impulso, tentar corrigir o salto, em voo esplendoroso, tentado aterrar o mais escorreito possível. Escolhi, é claro, a única opção que me permitiria manter dignidade, certamente, aquele vulto voador cumpriria o seu propósito e elas haveriam de, atónitas, ver as capacidades daquele puto acrobata; se o navio afundava, eu haveria de afundar com ele, nunca antes.

Sem comentários: