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sábado, 1 de agosto de 2015

Cidadão Nemo por Paulo Seara (#05/2015)

Cidadão Nemo
Peça em 1 Acto

Por Paulo Seara


Cena 5 (A visitante)


Dentro do quarto com a parca iluminação, o telemóvel toca…

Semedo: Olá bom dia, ligas-me… és tu, parecia a voz da tua mãe… nem sabes o tempo que passou. Sim o local é bom, para o preço que é, é razoável. Queres saber se deixei aí alguma coisa? Vens cá amanhã, oh, sou assim tão importante para ter visitas. Tinhas medo… porque a rua era de má fama. Está bem… Traz então, se tendes uma a mais, que eu deixo no quarto… aqui há uma na saleta, não é grande coisa mas o sofá é bom! Se não pergunto nada… tu, é que estás aí, tu é que me podes trazer notícias. Estou bem, estou bem. Quero que saibas, que nem tu nem eu! Não estão mais amaciados… ora não vou perder o sono com isso. Nem tu nem eu! Sim! Mas podes ter a certeza que não vão mais roubar do meu prato! Tens de ir… está bem. Tudo está conversado, nada há mais, mais nada… Amanhã á tarde cá espero. É na Viela de São João, número 21, 2 º andar. Sim… sim… há intercomunicador… Adeus, boa viagem!

Galdéria, andas a estudar ecologia, aqui perto. Os teus pais é que são culpados. Se um gajo tivesse filhos…. se um gajo… mas sei lá, ainda saíram como os meus irmãos e irmãs. Chupistas dum raio, até os emigrados. A galdéria. Tenho aqui duas televisões, não preciso que me venhas trazer uma lata qualquer, e passear as mamas!

(Pausa)

Estou sim. Só depois de amanhã. Estimo-lhe as melhoras, não te esqueças de lhe dizer. Não faz mal. Nenhum. Vais ver que ainda te vai dar mais do que pensas, não sabes o que ela pensa de ti a sério. Está velha é o que é! Então adeus… e até breve.

És como a tua mãe, que só pensava em bailes, e dos dias felizes á moda antiga.

(Fade out)

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