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sexta-feira, 8 de maio de 2015

SCREEN SHOT por A.A.M. (#19/2015)

(Screen Shot é escrito segundo a nova variação ortográfica.)


Filme: Pára-me de Repente o Pensamento
Realização: Jorge Pelicano


Loucura criativa, loucura patológica. Ténue e invisível é por vezes a barreira que separa estas duas frentes. Foi a transposição desse limite que levou em 1894 Ângelo de Lima, poeta e artista, a ser admitido no Centro Hospitalar Conde Ferreira. É ele quem o ator Miguel Borges tenta encarnar numa demonstração do processo criativo de uma personagem para a sua próxima peça de teatro. Para isso, ele próprio se “internou” durante 3 semanas e partilhou com os utentes do Hospital todas as suas rotinas. Tudo isso captado pelo olhar atento e detalhado de Jorge Pelicano. Um relato de forte carga emocional com participação fundamental dos pacientes, funcionários e colaborados que dão vida e partilham a vida diariamente por entre as paredes desta instalação psiquiátrica. A arquitectura humana suplanta o misticismo muitas vezes associado a este espaço, num relato que nos conta a história da génese e missão do Centro Hospitalar Conde Ferreira e nos abre a porta ao conhecimento deste paradigma e também às suas instalações. Já aclamado como uns dos melhores trabalhos sobre o tema, espera sensibilizar o público para esta causa a nível nacional com esta estreia no circuito de cinema português. Dizem que ninguém está livre de padecer de uma doença a nível psíquico, fica portanto uma visão interna daquilo que hoje é visto como uma doença. Nas palavras de Ângelo de Lima, em 1915: 


Pára-me de Repente o Pensamento


Pára-me de repente o pensamento
Como que de repente refreado
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz, do esquecimento...

Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára um cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado...
Pára e fica e demora-se um momento.

Pára e fica na doida correria...
Pára à beira do abismo e se demora
E mergulha na noite escura e fria

Um olhar de aço que essa noite explora...
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora.


Ângelo de Lima, in 'Antologia Poética'


paramederepenteopensamento.com


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