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sábado, 15 de novembro de 2014

Crime Entre Amigos por Paulo Seara

(Se perdeste, algum dos capítulos anteriores de Crime Entre Amigos, ou se os quiseres reler, carrega nas ligações para veres o capítulo respectivo.)

Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV


Capítulo V – 10 de Dezembro



Rogério já tinha um plano, como o velho Gonçalves morrera devia agarrar a oportunidade de ficar com a vaga de sacristão. Ter acesso à capelinha não seria mais um problema, e o cargo garantir-lhe-ia a descrição que precisava. Edmundo gostou da ideia, era maldosa, a recôndita mentalidade das pessoas nunca admitiria pensar num sacristão que roubasse uma imagem, muito embora os sacristães tivessem fama de recolher os fundos das esmolas. Era necessário convencer o padre, e a paróquia teria um novo, e bem novo serviçal de Deus. A mulher é que não gostou da ideia. Ela achava-o doido, ele que desde a entrada no serviço militar nunca conhecera o interior de uma igreja, até ao dia do casamento. De onde lhe vinha aquele manancial de religiosidade? Tinha estado com gripe, mas não estivera às portas da morte. Que estranha redenção! Pensar em ser sacristão, substituir o velho Gonçalves acossado pelo catarro e pela coluna moída.

Disse-lhe que era seu dever, perpetuaria a tradição familiar que um tio-avô deixara sem continuadores, trinta anos atrás, ainda ele não tinha nascido.

Não obstante as picardias, as interrogações, as cadeias que a jovem mulher lhe fabricou, este seguiu em frente, não temendo o figurão entre os amigos. Doido obstinou-se repetidamente até que se foi “reconciliar com Deus” na pessoa do padre Silva. Mais uma vez, na tal véspera da reconciliação, Joana lhe implorou, para que pensasse na chacota de que seria alvo no emprego, na cidade, e como a família o estranharia, esbugalhada, com aquela “reconciliação”.

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