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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Crime Entre Amigos por Paulo Seara

(Se perdeste, algum dos capítulos anteriores de Crime Entre Amigos, podes ler aqui o capítulo primeiro e aqui o capítulo segundo.)



Capítulo III – 3 de Novembro



Rogério andou às voltas com a ideia, era uma tentação que lhe cantava na cabeça, e decidiu-se a participar. A caminho para o campo agitava as mãos dentro dos bolsos do casaco,  friccionando a sua emoção, uma excitação de premeditado criminoso com um sorriso nos  lábios. Edmundo haveria de gostar da decisão. A ideia tinha partido dele, e ele haveria de trocar as jóias da melhor maneira. Mas interrogava-se quanto à maneira de roubar a capelinha,  roíam-lhe uma série de dúvidas que esperava dissipar com o organizador de toda aquela trama.
Não demorou. Assim que se observaram mutuamente, reagiram alegremente, já sentindo o faro do tesouro que os esperava. Iam até ao fim, e por amizade e segurança juraram ter o máximo de secretismo. Primeiro, antes de lançar a rede à sacra imagem, tinham de estudar o local, para não se exporem, planearam o assalto para uma noite no fim do mês. A 30 de Novembro entrariam, fosse como fosse, no templo e, com os segundos contados, levariam a imagem para longe, onde na segurança do silêncio retirariam o cromático conteúdo. Quanto à imagem, pensariam mais tarde no  que  lhe  fazer. O importante era o conteúdo. A conversa demorou toda a tarde, os passos de cada um pertenciam a um futuro que já pertencia ao presente da conversa. Não existia nada mais fácil de realizar!? Para disfarçar o roubo inventaram o estratagema de uma viagem a um certame de  caça na cidade,  de certo  teriam de lá passar, disfarçando o seu traço criminoso. E, com o plano decorado, tratariam agora de arranjar uns pés de cabra, dois fatos de macaco e duas lanternas…
Faltava ainda reconhecer o local, memorizar os carreiros entre as murtas e urzes, as aflorações de pedras, os pontos mais perigosos, sem  esquecer a iluminação do recinto e a resistência das portas. Foi sobretudo este último ponto que os levou a usarem uma machada, para além de um pé de cabra.
Sentia-se depois da longa maquinação um ar pesado e o olhar espesso; faltava-lhes o ar de 30 de Novembro, respirariam fundo antes de arrepiar caminho. Depois da hora do lobo, refastelariam com o saque. Esperavam estupefactos que toda a história fosse verdade, mas, apesar da desconfiança cofiada nas caras, sentiam o ar da aventura e os relâmpagos do medo que faziam subir os baixos escrúpulos.

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