Capítulo III – 3 de Novembro
Rogério andou às voltas com a ideia, era uma tentação que lhe cantava na cabeça, e decidiu-se a participar. A caminho para o
campo agitava as mãos dentro dos bolsos do casaco, friccionando a sua emoção, uma excitação de
premeditado criminoso com um sorriso nos
lábios. Edmundo haveria de gostar da decisão. A ideia tinha partido dele, e ele haveria de trocar as
jóias da melhor maneira. Mas interrogava-se quanto à maneira de roubar a
capelinha, roíam-lhe uma série de dúvidas que esperava dissipar com o organizador de toda aquela
trama.
Não demorou.
Assim que se observaram mutuamente, reagiram alegremente, já sentindo o faro do
tesouro que os esperava. Iam até ao fim, e por amizade e segurança juraram ter o máximo de secretismo. Primeiro, antes de lançar a rede à sacra imagem, tinham
de estudar o local, para não se exporem, planearam o assalto para uma noite no
fim do mês. A 30 de Novembro entrariam, fosse como fosse, no templo e, com os
segundos contados, levariam a imagem para longe, onde na segurança do silêncio retirariam o cromático conteúdo. Quanto à imagem,
pensariam mais tarde no que lhe
fazer. O importante era o conteúdo. A conversa demorou toda a tarde, os passos de cada
um pertenciam a um futuro que já pertencia ao presente da conversa. Não existia
nada mais fácil de realizar!? Para disfarçar o roubo inventaram o estratagema de
uma viagem a um certame de caça na
cidade, de certo teriam de lá passar, disfarçando o seu traço
criminoso. E, com o plano decorado, tratariam agora de arranjar uns pés de
cabra, dois fatos de macaco e duas lanternas…
Faltava ainda
reconhecer o local, memorizar os carreiros entre as murtas e urzes, as
aflorações de pedras, os pontos mais perigosos, sem esquecer a iluminação do recinto e a
resistência das portas. Foi sobretudo este último ponto que os levou a usarem
uma machada, para além de um pé de cabra.
Sentia-se
depois da longa maquinação um ar pesado e o olhar espesso; faltava-lhes o ar de
30 de Novembro, respirariam fundo antes de arrepiar caminho. Depois da hora do
lobo, refastelariam com o saque. Esperavam estupefactos que toda a história
fosse verdade, mas, apesar da desconfiança cofiada nas caras, sentiam o ar da
aventura e os relâmpagos do medo que faziam subir os baixos escrúpulos.
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